Parceiros:

» Criação de Sites

» Criação de Sites em Manaus

» Site Manaus





Siga ParintinsCom no Twitter

A Magia do Festival

07/05/2005, Sérgio Xavier dos Santos

Mais uma temporada se inicia e vemos as tribos da floresta, azuis e vermelhas, reunirem-se ao redor do fogo da paixão entoando altos gritos de guerra, anunciando cada qual sua vitória.

Cada membro individual prepara-se para batalha de seu modo próprio. Uns, próximos do grande local de combate, privilegiam-se com a possibilidade de poderem contribuir diretamente na construção de seus gigantescos instrumentos de guerra que levarão arena adentro, fazendo a nação tribal global estremecer. Outros, mais distantes, contam os dias e as horas para poderem, no grande combate, levantar sua voz, seu canto de guerra, sua energia vibrante em apoio a seus guerreiros.

Quaisquer que sejam os motivos que os impulsione a estar presentes, uma coisa é certa: É uma grande festa em homenagem a criatividade de uma tribo que, embora modesta e simples, afastada da sapiência cultural moderna, soube mostrar para o mundo que podemos garimpar dentro de nós mesmos o material precioso necessário para iluminarmos o mundo com alegria.

Renasce novamente Parintins com seus caboclos "perrechés" que encantam o mundo em troca de sorrisos, tentando mostrar pelo seu modo de viver que podemos estar em paz e harmonia com a mãe natureza que os tem como a filhos amados. É nessa relação maternal que choram seus antepassados dizimados por aqueles que chamaram de civilização, a morte e o massacre de seu povo.

Buscam, na harmonia rítmica das toadas, com versos encantados por seus autores, mostrar a simplicidade da maestria cabocla. Surge, qual assovio do vento a trilhar por entre as arvores, a música da floresta que contagia o visitante pelo ritmo poderoso, forte e dançante, mostrando ao mundo, seu grito de revolta pacifica. Mal recuperado do impacto causado pelo ritmo da floresta, eis que aparece a morena bela, menina mulher, com os pés libertos do chão, a mostrar o rio pelas curvas, o vento pelos cabelos, a água pelos pingos a escorrer-lhe os seios, o sol e a lua pelo bronze do corpo.

O que fazer diante de tanta emoção senão entregar-se para o descobrimento da mais profunda, pura e contagiante emoção! Com o sangue oxigenado pela magia do encanto festivo, chora o visitante por inconscientemente lembrar-se que viveu aqui em tempos passados sob forma de silvícola antes de ter sido dominado pelas caravelas.

Aprende que deve tirar dos sentimentos contrários motivos para sua própria vitória sem rebaixar os adversários ou destruí-los, mas mostrando o resultado superior da convivência pacífica, pelo silêncio na hora devida, pelo respeito à evolução própria de cada um.

Sente-se pequeno diante de uma ópera que jamais acreditou ser possível realizar numa ilha tão distante do que acredita ser o progresso. Começa a entender porque todos a chamam de encantada e até chega a orgulhar-se de ter sido índio um dia. Descobre que o conjunto forma a beleza e que a beleza dá forma ao conjunto.

E no êxtase do sentimento, se redescobre como criança, renascendo para uma vida de sentimentos antes eclipsados pela realidade que lhe foi imposta nas cavernas de cimento armado. Brinca, pula, gira, ginga pra lá e pra cá num movimento de reencontro com a liberdade antes adormecida. Deseja ser real seu sonho de alegria sentida e percebe o sentido da alegria na realidade de seu sonho.

Retorna então saudoso e revitalizado para um mundo engravatado, sabendo o que é amar e ser amado, sabendo o sentido de sentir, e a redescoberta do sorrir!