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Tadas definem, no fim, o que os bois levam à arena

15/04/2006, Jornal A Crítica

Assim como a partitura está para a música e o libreto para a ópera, é a toada que dá sustentação dramática ao espetáculo criado por Caprichoso e Garantido para o Festival Folclórico de Parintins, realizado há 41 anos.

É dela, basicamente, com algumas adaptações, que nasce o boi de arena, aquele que encanta a platéia, arrebata torcedores e convence os jurados, a cada ano, de quem foi o melhor em cena: azul ou vermelho.

Neste ano, enquanto o Garantido aposta no boi solto, aquele que surge a partir das criações livres dos compositores, o Caprichoso pré-concebeu um tema, que tem um slogan que serve de guia para todo o resto, mas permite criação espontânea. O tema central, recorrente, é a Amazônia, seus seres naturais, sua gente, o brincar de boi e os personagens do brinquedo, diz o antropólogo Sérgio Ivan Gil Braga, professor da Universidade Federal do Amazonas Ufam.

Braga, doutor em Antropologia Social pela USP, explica que hoje, bem diferente dos anos 90, as agremiações estão mais articuladas na concepção de arena, daquilo que vai ser levado ao Bumbódromo durante as três noites. Antes, até podiam surgir músicas desconexas com o que se via, hoje não. A toada se costura pelo tema, seja ele a Amazônia, seja o ritual ou os personagens. E longo do tempo os próprios compositores foram se especializado em temáticas, como lendas e ritos diz o antropólogo.

Para o coordenador da Comissão de Arte do vermelho, Chico Cardoso, a toada serve como partitura dramática, orientando o espetáculo. É ela que conduz todo do o processo criativo. Os nossos artistas, além de compositores, são autores, dramaturgos, porque é a partir da obra deles que se constrói o que será levado a arena, fala Chico, acrescentando que esse processo exige uma responsabilidade pedagógica enorme, atenção e fundamentação.

A música, então, não pode ser muito sintética, sob pena de prejudicar a parte cênica do bumbá e a tradição. Não podemos aceitar uma toada sem pesquisa e fontes para não sermos irresponsáveis. Os compositores têm liberdade poética, mas não podem cometer um crime contra a Antropologia, inventando lendas e rituais, por exemplo, conta o coordenador do Garantido.

No Caprichoso, o boi deste ano pré-concebido, ou seja, tem um tema central a partir do qual criou toda sua estrutura. Com slogan Amazônia, Solo Sagrado, o bumbá lançou seu edital de toadas com detalhes do que deveria ser apresentado pelos compositores. Dessa forma, o presidente da agremição, Carmona, acredita que haverá uma cadência e ritmo únicos. Agora estamos fazendo assim, seguindo um padrão.

A tendência é de se apresentar o que está na toada, mas pode haver variações. Pode-se enriquecer uma alegoria com outros elementos que não estejam presentes na composição, exceto no ritual, que deve ser fiel, segundo manda o regulamento. Quem manja um pouco de boi sabe que teremos inovação só de ouvir as toadas 2006. Há letras que nunca foram apresentadas. Por isso começamos do zero nos galpões, adianta.