23/06/2006, Peta Cid, direto de Parintins
Item que nos últimos anos ganhou notoriedade por representar a essência do povo da floresta, as figuras típicas regionais estão sendo preparadas pelos Bois Garantido e Caprichoso para ser um espetáculo sublime na arena. O Caprichoso vai mostrar a conquista do Solo Sagrado pelas Benzedeiras da Amazônia, tipo humano vital para a sobrevivência dos que habitam nas comunidades isoladas por enchentes ou pelas distâncias impostas na grandiosidade dos rios.
Quando realizam o rito da cura, retirando rebrantos, pegando dementiduras, quebradura de ossos, ou fazendo partos, essas mulheres abençoadas recorrem à sabedoria popular, à herança indígena, para atuar em conjunto com o legado da religião cristã da devoção aos santos católicos, para fazer a interligação dos mundos imaterial e físico, importantes para a sobrevivência do homem na Amazônia.
Elas retiram da floresta os elementos que precisam para curar. É nas ervas medicinais, nas folhas milagrosas, no conhecimento popular, na herança deixada pelos índios, que está a conquista do Solo Sagrado, comenta a presidente do Conselho de Artes, Márcia Baranda. Ela revela que o Caprichoso vai partir dessa concepção, de que a Amazônia cobiçada por estrangeiros, muitos chegando ao absurdo de patentear as ervas, é o Solo Sagrado que oferece ao homem o conhecimento empírico das ervas milagrosas que despertam curiosidade da comunidade científica.
Uma das homenageadas pelo Caprichoso é Dona Iaiá, moradora do bairro São José Operário, famosa benzedeira da Ilha.
A alegoria das Benzedeiras foi uma das primeiras a ganhar decoração no galpão do Caprichoso. Com uma dezena de módulos decorados com materiais extraídos da própria natureza, como a palha, s intenção é um realce original. As grandes estruturas produzidas pela equipe de Karu Carvalho vão abusar dos movimentos e da encenação teatral para explorar com fidelidade como as benzendeiras se tornaram as guardiãs da encantaria. Confesso que foi um desafio, mas o resultado está aí e tenho certeza que este trabalho emocionará o público. É um dos momentos fortes do Caprichoso neste Festival, assegura. Segundo Karu, as benzedeiras vão executar a cura em pleno Bumbódromo. A forma como isso vai acontecer é um segredo muito bem guardado.
Karu
Dona Raimunda Góes, 66 anos, a Dona Iaiá, é o exemplo da cura sagrada das mulheres que benzem. Ela diz que recebeu o dom de Deus e mesmo na dor de um derrame que a deixou baqueada doente, continua trabalhando porque está cumprindo a missão de fazer o bem.
Dona Iaiá
Trecho da Toada as Benzedeiras
Caprichoso celebra o dom da unção
Presente nos mistérios das mulheres que benzem
Com o toque dos dedos acalmam o sofrer
E na oração de dona Iaiá, a fé é o seu alimento.
toada de Evander Batista e Sebastião Júnior