
A Cidade Garantido praticamente parou. Ontem pela manhã um grupo de 50 artistas do galpão central, local onde são confeccionadas as alegorias, paralisaram as atividades. Eles reivindicavam o pagamento do contrato de salários referentes ao mês de maio. Os manifestantes se concentraram nos portões de entrada da Cidade Garantido, ocupando parte da Rodovia Odovaldo Novo.
A mobilização do movimento começou anteontem depois que soubemos da notícia que não haveria previsão de pagamento, disse Jeffersom Monteverde, funcionário do galpão.
O grupo de grevistas também contestou o motivo do atraso de pagamento, cobrando explicações sobre os recursos financeiros que o bumbá recebe para disputar o Festival.
A imprensa divulga que esses recursos já foram liberados. Queremos saber o que como está sendo feito com o dinheiro, afirmou um outro funcionário do galpão que pediu para não ter o nome revelado. Ele disse ainda que o atraso de pagamento é de apenas um mês.
Estamos há uma semana aguardando um novo pagamento, acrescentou o artista.
A Cidade Garantido é a sede central do bumbá onde funciona três galpões com a produção de alegorias, tribos e capacetes. No mesmo complexo, funcionam também a base do Comando Garantido, a torcida organizada do boi, o setor da batucada, o centro de produção das costureiras, o centro administrativo e o curral. Os artistas de alegoria, Jair Mendes, Junior de Souza e Teco Mendes, filho do mestre Jair, tentavam contemporizar os ânimos das equipes que exigiam a imediata quitação dos vencimentos.A diretora financeira do boi Tereza Rocha e o compositor Fréd Góes, que também é membro da Comissão de Artes, reuniram com os artistas que participaram da manifestação e pediram a volta deles ao trabalho, depois de explicar os motivos pelos quais ocorreram os atrasos nos vencimentos.
O Presidente do Garantido, Antônio Andrade, que está em Manaus, disse que a situação no boi já foi contornada.
Não há motivo para paralização. Estamos procurando cumprir com todos os compromissos assumidos e vamos honrá-los. Podem ter certeza, frisou o presidente.Antônio Andrade viajou a Manaus para uma reunião com o Secretário de Estado da Cultura, Turismo e Desporto, Robério Braga, justamente para acertar a liberação dos recursos do Governo.
Durante o encontro, o secretário confirmou a redução da verba pela metade. Dos R$ 650 mil anunciados serão liberados somente uma parcela equivalente a R$ 350 mil. O presidente do Caprichoso, Dodozinho Carvalho também estava na reunião. A previsão do dinheiro cair na conta dos bois é a partir dos meados deste mês.
O Garantido programou o seu orçamento para trabalhar com a verba de R$ 650 mil previstos. Necessitamos deste dinheiro para finalizar a compra de materiais no Rio e pagar duas parcelas finais de salários. No início das atividades enxugamos todo o Boi. Cortamos a carne, até as gorduras, explicou o presidente do Garantido.
Os trabalhos no boi da Baixa de São José começaram bem mais cedo este ano, no dia 18 de março.
A nossa galera pode ficar tranqüila, porque o nosso boi está bonito, precisamos agora deixá-lo lindo para conquistarmos o penta. Temos que contar com isso com a colaboração de todos, principalmente, agora da galera e dos nossos artistas. Apelamos também para a sensibilidade, sobretudo do Governador Amazonino Mendes, que é o maior incentivador do nosso Festival, argumentou. Segundo ele, além dos recursos do Estado, os bumbás aguardam ainda a cota de patrocínios com o Bradesco, Ministério da Cultura e Embratur. Andrade retorna esta manhã a Parintins e realizará nova reunião com os artistas do Boi.
O presidente do Garantido disse ainda que, a cada dia que se passa, a situação do boi piora.
O acabamento das alegorias está comprometido. Se o Governo decidir voltar atrás, tem que ser feito isso urgente, não por uma exigência nossa, mas por uma questão de necessidade, pois não nos adiantará ter R$ 1 milhão se não der tempo para trabalhar, disse.
De acordo com Antônio Andrade, um boi gasta cerca de R$ 2,7 milhões para se apresentar nos três dias de festa.
Falta-nos exatamente os R$ 650 mil. Isso porque enxugamos tudo. Elaboramos um boi lindo, mas sem gastos excessivos, declarou.
Segundo ele, toda a cidade de Parintins se apavorou quando ficou sabendo do corte na verba.
A cidade sobrevive dessa festa pelo menos dois meses antes dela ocorrer. Os comerciantes que investiram estão assustados e há ainda os que nem investiram ainda, estão receosos. Se isso ocorrer mesmo este ano, os turistas podem se afastar da festa, argumentou.