Ministério Público pode fazer escolha de jurados
11/06/2002, Jornal A Crítica
Defendendo a credibilidade e a moralização do Festival Folclórico de Parintins, o Ministério Público está propondo às diretorias dos bumbás Caprichoso e Garantido mudanças no processo de escolha dos jurados que vão apontar o boi campeão de 2002.
Os promotores Leda Mara Albuquerque, Cristiane Corrêa e Fábio Monteiro encaminharam um documento às diretorias propondo que seja revogado o artigo 2º e seus parágrafos do regulamento do 37º festival Folclórico de Parintins que se referem ao número e processo de escolha dos julgadores, e que a indicação recaia sobre pelo menos sete pessoas de renome nacional, julgando no máximo três itens por noite, dentro de suas áreas específicas.
Também foi proposto que a escolha fique sob a responsabilidade da Secretaria de Estado da Cultura, Desporto e Turismo (SEC), deixando aos bois apenas o dever de realizar o espetáculo.
O regulamento assinado pelas diretorias dos bois em dezembro do ano passado, definiu que a comissão julgadora seria composta por dois presidentes, um de cada agremiação e cinco jurados, que não poderiam ser residentes, domiciliados e nascidos nos Estados da Região Norte e nas Unidades Federativas que forneceram jurados no Festival do ano anterior (Ceará, Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Pernambuco, Paraíba e Alagoas).
O julgamento em cada noite seria efetuado por cinco jurados específicos, que julgariam, cada um, todos os 22 itens. Os presidentes da Comissão Julgadora seriam escolhidos pelos representantes das Associações Folclóricas concorrentes e apresentados no dia 15 de junho de 2002.
Para a escolha do corpo de jurados, os Presidentes da Comissão Julgadora deveriam manter contato com pessoas de renome nacional, nas áreas de folclore, arte e cultura. Os jurados deverão ser provenientes de Secretarias Estaduais de Cultura, Universidades Públicas, Museus de Folclore Públicos, Fundações e Instituições Culturais Públicas dos 05 (cinco) Estados sorteados, não podendo ser sorteado mais de um jurado por Estado.
Comprometidos com as questões de interesse da coletividade e com a aplicação das verbas públicas e entendendo que o Festival é a mola propulsora da economia local apresentaram a proposta de mudar esses itens levando em consideração a dificuldade dos bumbás em tratar da questão de escolha dos jurados.
A promotora Leda Mara defende que, a partir do momento que forem indicadas para compor a banca de jurados pessoas de renome nacional, haverá um compromisso maior com a lisura do Festival. Essas pessoas terão compromisso com a festa e com a sua própria imagem. Imagine, por exemplo que um escritor de renome nacional não vai querer o seu nome envolvido em escândalos ou em situação que vá levá-lo ao constrangimento, justificou.
A promotora disse que o boi Caprichoso aceitou a posição do MP, mas apenas sugere que outra instituição ou órgão faça o acompanhamento dos jurados e que não seja a SEC, pois ela já tem a atribuição de cuidar da organização da festa. Questionada pelo tempo, que seria curto para tratar dessas questões, segundo entendimento da diretoria do boi Garantido, Leda Mara argumentou que por mais curto que seja o tempo, nunca é tarde para as discussões. O que está em jogo é o Festival, a credibilidade dessa festa, da qual o povo de Parintins depende, enfatizou, salientando que muita coisa em Parintins gira em torno do evento é preciso que os bois tenham consciência dessa responsabilidade.
O promotor Carlos Fábio Monteiro acredita que não haverá nenhum prejuízo financeiro aos bois, pois sequer foi criada a comissão para tratar da questão ou sorteados os Estados de onde viriam os julgadores.
Ele esclarece que não se trata de interferência no poder dos bois, mas uma forma de tornar a indicação uma questão muito mais aberta, sem que necessariamente as pessoas tivessem que ficar às escondidas, deixando Parintins até de forma clandestina. O promotor sugere que os julgadores fossem informados por meio de palestras e cartilhas mostrando o que deve ser julgado.
O presidente do boi Caprichoso, Dodozinho Carvalho, disse que aceita a proposta, considerando que há tempo hábil para mudar o regulamento. Ele explica que problemas haveriam se as mudanças fossem relativas a parte artística do boi.
Carvalho propõe que o próprio Ministério Público coordene a escolha de jurados por entender que os bois não conseguem chegar ao entendimento e ninguém quer assumir a responsabilidade sobre tão delicada questão. O Festival não pode perder a credibilidade, essa coisa que encanta e orgulha o parintinense, frisou. Na opinião de Dodozinho, o resultado dos festivais anteriores tem deixado muita duvida e a festa não correr o risco do descrédito.
Questionado se a derrota do bumbá ano passado influencia na posição do azul, ele assegura que não se trata de choro de perdedor, mas de algo muito mais sério que pode ser ocasionado, inclusive, a saída de patrocinadores como Amazônia Celular e a Souza Cruz. O resultado do Festival deixou dúvidas não só para nós, mas para a torcida do contrário também, lembrou.
O presidente do Boi Garantido, Antonio Andrade, considera a proposta interessante, mas acha que tempo é curto para voltar a discutir o regulamento. Ele ainda não reuniu com a sua diretoria, mas argumenta que faltando apenas 15 dias para o festival, fica difícil discutir mudanças no regulamento que foi aprovado em dezembro do ano passado. Essa proposta não me desagrada, acho interessante, mas o tempo que se pretende colocar a discussão está fora de realidade, argumentou. Segundo Andrade, o Garantido está suspendendo atividades do boi, como a assembléia que seria realizada ontem, porque o tempo é curto. Imagina se vamos ter como rediscutir o regulamento, completou.