Arte e movimento nas tribos coreografadas
25/06/2008, Jony Clay Borges, Da equipe de A Crítica
Os rituais ancestrais das tribos indígenas, o andar característico dos animais e o trabalho cotidiano de ribeirinhos e de caboclos da região se transformam num conjunto de gestos e de movimentos que impressionam e encantam o público nas três noites do Festival Folclórico de Parintins. A beleza e a criatividade da coreografia de itens individuais e coletivos de Garantido e Caprichoso é uma das mais importantes armas dos bumbas na disputa pelo título.
“Hoje se vê a presença marcante da alegoria, mas a presença humana é que é vital para o espetáculo. Toda a movimentação alegórica não tem sentido sema presença humana”, afirma Chico Cardoso, coordenador de Coreografia e Teatralização na Comissão deArtes do Garantido. Para Chico, o essencial na criação coreográfica é a busca por novos elementos e técnicas, sem perder de vista sua referência cultural. Os dançarinos, segundo ele, “têm de se inserir no espetáculo de uma forma não-estereotipada, mas com uma interpretação criativa daquele gestual no qual se baseia”.
Gente e animais
As coreografias,de acordo com Jair Almeida, coreógrafo do Caprichoso, dividem-se em tradicionais, baseadas no conhecido “dois para lá,dois para cá”, e as temáticas, como as de rituais indígenas ou figuras típicas regionais. Nas primeiras, os movimentos costumam termais a ver com o boi e seus símbolos, enquanto as temáticas são elaboradas a partir das referências étnicas, culturais ou mesmo zoológicas nas toadas.
“A maior parte das coreografias indígenas são movimentos de animais. Já nas figuras caboclas, há muito movimentos ligados à terra, como o gesto de colher uma raiz de mandioca”, explica o artista, que assina todas as coreografias tribais do Caprichoso. Ele menciona, como exemplo de coreografia baseada em movimentos de animais, a do Uruapiara, ou “uruá gigante”. “O uruá é um bicho arredondado que fica na água, e por isso criamos movimentos e composições circulares para essa coreografia”.
Clássico e ancestral
As coreografias costumam trazer alguns dos momentos mais surpreendentes da apresentação no Bumbódromo. O Garantido afirma que está apostando suas fichas nas tribos coreografadas, mas não só. “Elas são a nossa potência de criação gestual, mas também apostamos nos tuxauas e na Vaqueirada, que está pronta para fazer um movimento diferenciado na arena”, informa Chico Cardoso. Para ele, o maior desafio da coreografia é “fazer essa garotada ficar dançando como uma moldura por duas horas e meia”.
Do lado do Caprichoso, a aposta franca é nas tribos, que prometem surpreender em sua apresentação no festival folclórico. “Na primeira noite, estamos apostando numa grande batalha com todas as tribos e, na segunda, vamos fazer uma ‘revoada de pássaros’”, adianta o coreógrafo Jair Almeida. O ponto alto, acrescenta ele, deverá vir na terceira noite. “Todos apostam na chegada dos insetos”, afirma o artista, fazendo referência ao ritual Hy-Merimã,que terá alegoria de Teço Mendes.