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Onde o verde encontra o tom

15/06/2009, Em Tempo

Músicas do novo CD do Caprichoso mostram autenticidade e riqueza poética para a verdadeira evolução na arena.

Quando se ouve o disco “Onde o Verde Encontra o Azul”, trilha sonora do boi Caprichoso para a disputa do Festival Folclórico de Parintins 2009, algumas considerações devem ser feitas. Primeira: a seleção das 20 toadas que compõem o álbum foi uma das mais bem-sucedidas dos últimos dez anos. Sem tirar nem pôr, o Caprichoso de arena está todo ali. O que na prática quer dizer: poucas toadas descartáveis. Segunda: finalmente o Azul se livra de uma praga criada nos anos 1990 para animar sua galera, que são os rasos e exagerados “ô ô ô ia ia ia iês iês iês” usados para ocupar espaços onde a fraqueza poética reinava absoluta. Terceira: o levantador Edílson Santana se estabelece como a antítese de David Assayag, mostrando a uma molecada que é possível sim cantar sem tentar imitar o rei.

Produzido por Neil Armstrong e Mailzon Mendes, o disco apresenta 20 faixas divididas entre toadas temáticas, feitas para os itens evoluírem e as chamadas “toadas genéricas”, voltadas para o povão cantar. Assim como no álbum do Garantido, o peso da percussão parece ter sido reduzido, o que de certa forma tira o brilho de algumas toadas, entre elas as de ritual, onde o peso dos “treme-terra” é o grande charme. O mesmo cuidado em nominar os itens individuais nas fotos para que o público saiba “quem é o quê” está presente nos encartes dos dois bois.

Trilha montada

Apegado ao ideal da paixão exacerbada, o Garantido aposta no emocional para seduzir “corações e mentes” de seus admiradores e principalmente dos jurados que vão decidir mais um festival. Para tanto, as toadas são peças fundamentais, já que combinam poesia e musicalidade. Nesse ponto os compositores da Baixa são experts. No disco “Emoção”, os destaques ficam por conta das toadas denominadas de “genéricas”, feitas para o povão cantar. Entre elas “Boi do Povão”, de Marcos Lima, que combina poesia simples com vocabulário requintado como no trecho: “Duna de algodão ostenta livre o nobre coração e faz brotar o dom do amor maior o boi do povão sempre será”. A universalidade ganha espaço em “Vermelho Universal”, de Marlon Brandão e Rossy do Carmo. Outro destaque é “Canto do Sonho-Fantasia”, uma bonita homenagem de Tadeu Garcia ao levantador David Assayag. A questão ambiental, velha conhecida dos versos vermelhos, está presente na toada “Filhos do Amanhã  A Sabedoria não Envelhece”, de Paulinho Du Sagrado. Entre os rituais, “Baiás do Círculo Sagrado”, de Marcos Boi e Enéas Dias, é o grande destaque da porção indígena do disco 2009.

Ótimo para ouvir a caminho de Parintins para mais um espetáculo grandioso da Amazônia.

Mencius Melo
Da equipe do EM TEMPO