Com a arte no sangue
24/06/2009, Jornal A Crítica
Nelson Brilhante
Da equipe de A CRÍTICA
Se o baiano em vez de nascer, estreia, o parintinense já é artista antes de vir ao mundo. Ninguém consegue explicar essa destacada tendência artística, pré-concebida por quem nasce na IlhaTupinambarana.
Já se foram duas dezenas de carnavais e nem cariocas nem paulistas conseguiram absorver o supra-sumo dos artistas de Parintins, importados, inicialmente, com essa intenção. As escolas de samba já entregaram os pontos: o jeito é vir buscar artista no interior do Amazonas. Que ciência é essa? De onde vem tanta criatividade? Porque esse povo insiste em desafiar, com sucesso, a lei da gravidade? Todo ano é uma plasticidade, é um movimento diferente.
E a tendência não é direcionada exclusivamente para o boi ou carnaval. Criada há 12 anos, a Escola de Artes do Caprichoso mantém 670 crianças, em 23 oficinas de arte, mantidas por meio de convênios com o Banco do Brasil, Governo do Estado e Petrobras. Alguns exalunos já estão atuando nos galpões do Caprichoso,enquanto outros ingressaram como professores voluntários nas oficinas.Em três anos,dois alunos e um professor venceram o concurso anual para a escolha do cartaz do Festival.
“A arte,a poesia e a dança estão no sangue do parintinense. Você vê os olhos dessas crianças brilhando quando estão aqui. O termômetro é a procura por vagas. Não consigo atender à demanda”,revela a diretoria da Escola, Izabel Porto.
Na concepção do jornalista Fred Góes, membro da Comissão de Arte do Garantido, a veia artística do povo da Ilha pode ser o resultado da transfiguração étnica e cultural por qual passou. Essa unidade evita os conflitos culturais e étnicos, deixando a criança sem limitações, inclusive para criar. “Somos de tudo um pouco, a fusão de culturas vindas de vários continentes”.
E o que tudo isso tem a ver, diretamente, com a produção artística dos parintinenses? “Com o resultado de tudo que temos. Não somos xenófagos e nem preconceituosos sobre nada. Parintins tem a índole da modernidade, do desenvolvimento e do aperfeiçoamento do ser humano”.
Descendente de judeus, Jair Mendes, do Garantido, é o grande ícone da revolução artística que criou um divisor entre o boi de rua e o boi espetáculo. Isso, sem nunca ter frequentado uma escola de arte. Essa realidade é quase que totalitária entre os que fazem os três dias de festa.
“O Jair foi o início de tudo. Foi ele quem teve a inteligência e a coragem de ousar, além de abrira porta para que centenas de artistas”, reconhece o consagrado artista plástico Juarez Lima, do Caprichoso. Juarez foi discípulo do saudoso Irmão Miguel De Pascale, religioso italiano autor de todo o acervo artístico que ilustra a parte interna da catedral de Nossa Senhora do Carmo.