Curumins da baixa contam história do Garantido desde surgimento no século passado
O surgimento, evolução da brincadeira de boi bumbá e as conquistas artísticas do Boi do Povão foram apresentadas dia 21 de abril, no curral Lindolfo Monte Verde pelos curumins da “
Universidade do Folclore” do Garantido, do projeto “
Oca do Saber” desenvolvido no Centro Educacional Paulo Faria.
A programação envolveu mais de 300 crianças, adolescentes e jovens que durante os últimos seis meses participaram das oficinas de dança, música, artesanato, teclado, cavaquinho, flauta e arte cênica.
O coordenador da Universidade do Folclore Chrystian Bulcão apresentou o projeto ao presidente Telo Pinto e a diretora social Aparecida Silva. Telo revelou que o projeto é a menina dos olhos da atual administração do Vermelho e Branco.
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A identidade do Garantido todo mundo conhece em Parintins, sabemos valorizar e repassar nossa história, sem modificar ou inserir outros valores. Quem tem participação no festival se rendeu a arte do Garantido e não o contrário. Esse evento é especial porque abrange os diversos segmentos históricos. Também nos deixa satisfeito pelo resultado obtidos junto às crianças”, diz o presidente.
O projeto encerra as atividades do primeiro semestre do Centro Educacional, inaugurado no mês de Outubro do ano passado. “
O Garantido é fruto de um sonho diferente. Sonho do mestre Lindolfo e de centenas de pessoas que acreditaram nesse sonho no inicio do século passado. Hoje Parintins vive desse sonho que transformou nossa realidade. A nossa diretoria vem mostrar um pouco desse momento”, diz a diretora social Aparecida Silva.
Chrystian Bulcão explica que durante dois meses os alunos fizeram trabalho bibliográfico, de campo e de entrevistas, aprofundamento das letras das toadas e seus respectivos compositores, sempre orientados pelos monitores do Centro Educacional.
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Essa exposição terá surpresas como é o estilo do boi Garantido. Sempre surpreendente. Essa é a marca do nosso boi”, afirma Bulcão, que exalta a evolução de cada aluno inscrito. “
Os alunos não estão apenas reproduzindo sons e desenhando traços, mas criando. Aqui o aluno não aprende apenas utilizar os instrumentos, mas descobre em que contexto histórico e porque foi criado”, comenta.
O coordenador do Centro salienta que os alunos no primeiro momento receberam formação no acordeom, estruturas de ritmos, estruturas melódicas, estrutura de harmonia e leitura de partitura. “
Somos o primeiro centro de formação a realizar esse trabalho. Uma pessoa que sabe tocar o ritmo de uma música conhecida. Agora experimenta algo desconhecido se ele não tiver leitura de partituras terá enormes dificuldades”, diz Bulcão.
Espetáculo em dez atosO nascimento de Lindolfo Marinho da Silva em 1902, na baixa da Xanda, que mais tarde se tornou Lindolfo Monteverde. As saídas de ruas do Vermelho e Branco, as fogueiras, a religiosidade da comunidade de São José, a ladainha a São João Batista, os primeiros compositores, antigos itens, a primeira disputa, a primeira de sucessivas vitórias, as famílias identificadas que ajudaram financeiramente o Garantido, os padrinhos do boi, a morte do mestre Lindolfo, a evolução das alegorias, das toadas e o aprimoramento artístico até os dias atuais, foram retratados em forma de música, dança, artesanato, poesias e desenhos, na exposição do dia 21 de abril de abril.
A criação do brinquedo de São João foi de responsabilidade dos alunos de arte cênica do professor Tarcisio Gonzaga. Ao som da toada Folguedo Brasileiro, as crianças da oficina de desenho de responsabilidade de Adriana e Rob Barbosa, em quatro minutos desenvolveram desenhos com animais da fauna e flora da Amazônia e figuras retratando a Parintins do século passado.
Os curumins da baixa, na oficina de dança, exaltaram a Amazônia na toada Amazônia em Aquarela, com orientação dos monitores Hélio Siqueira e Pedro Evangelista. Elder Reis coordenou o quarto ato onde os meninos da oficia de violão executaram a toada 3ª Evolução do compositor Tadeu Garcia. A oficina de cavaquinho executou a música classe 5ª Sinfonia de Beethoven e ainda a toada Vermelho, sucesso internacional do Boi Garantido, que estourou na voz de Fafá de Belém.
A mistura dos curumins de teclado e flauta do professor Clodoaldo Santos emocionou o público ao executar a toada mais tocada do festival do ano passado “
Baías do Círculo Sagrado” e ainda Orquestra Amazônica. As crianças realizaram desfile com as amostras da oficina artesanato em papel. A apoteose da programação teve o apresentador campeão Israel Paulain, relembrando a década de 90 saudando Paulo Faria, que em 2010 será comentaristas do Garantido na transmissão da Band.
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Alô alô galera vermelha e branca, chegou, chegou a hora do povo fazer a corrente. Esse é o boi valente que mexe com a gente, faz arrepiar. Esse é o boi Garantido garrote aguerrido, igual a ele não há...”, cantou Israel sendo aplaudido de pé.
Uma chuva mandada por São Pedro abrilhantou e coroou o trabalho desses pequenos futuros talentos do boi Garantido.
A diretoria do Boi do Povão contratou monitores que estão graduando-se em artes plásticas pela UFAM e graduados em Artes e Educação com habilitação em música pela UFPA, além de pessoas com cursos técnicos em dança teclado e flauta.
Texto: Hudson LimaFotos: Paulo Sicsú