A idade não é limite para brincar de boi bumbá. Os atores cênicos do Caprichoso são a prova disso. Todos os anos homens e mulheres com idade entre 42 e 89 anos fazem a teatralização dos movimentos de caboclos e ribeirinhos nas alegorias de figura típica regional e lenda amazônica.
Esses atores e atrizes são pescadores, donas de casa, tacacaseiras, farinheiros que reproduzem na arena do bumbódromo a labuta do dia a dia. “
Nós não preparamos atores para representar o caboclo, o pescador, a benzedeira, o farinheiro e os demais personagens. Quem está no teatro dos sonhos do Caprichoso, são caboclos, pescadores, benzedeiras, e farinheiros de verdade”, conta Ricardo Pegueite, coordenador de cênica.
Para valorizar esses artistas o Departamento de Cênico prestou homenagem, com entrega de fotografias, as senhoras que integram o grupo do boi azul. O evento contou com a participação da presidente do Caprichoso Márcia Baranda.
A história de cada uma das senhoras, o rosto enrugado que não esconde a vontade de fazer parte das apresentações do touro negro e a alegria peculiar da terceira idade emocionaram a dirigente azul e o coordenador cênico. “
È maravilhoso ver essas pessoas deixarem suas casas e se dedicarem aos ensaios para as apresentações no bumbódromo. Isso me emociona, pois a identidade com o idoso é muito grande”, comentou Márcia Baranda pedindo as bênçãos de Deus para os idosos.
Dona Marieta Martins de Souza, 81, veio da região do Uaicurapá para brincar de boi. “
Minha família sempre foi Caprichoso, ano passado eu fui camaroeira e farinheira na arena e esse trabalho me deixa muito feliz, não sei o que seria de mim se eu não participasse da cênica do Caprichoso”, conta ela com os olhos marejados.
Rosangela Ribeiro Rocha, 42, se emocionou enquanto a presidente do Caprichoso se pronunciava. Ela veio de Manaus há dois anos para brincar no Caprichoso “
Não sei como explicar esse sentimento essa alegria de participar dessa festa. Ser uma das atrizes tem um significado muito importante para mim, só deixarei quando estiver vovozinha e não puder ir ao bumbódromo”, comenta.
A mesma alegria das demais colegas não poderá ser comungada pela aposentada Clara Nogueira Mourão, 89, que por orientação médica não participará da cênica este ano. “
O Caprichoso é o meu boi, o médico me proibiu de participar, pois tenho problemas do coração e eu estou muito triste, mas vou ver pela televisão. Vai ser muito ruim para mim vê pela TV e pensar que poderia estar lá para ajudar meu boi a ser campeão, mas mesmo assim estarei feliz, pois minhas amigas estarão nos representando muito bem”, disse ela.
A tacacaseira Maria Helena Paz de Oliveira, 59, revela que a dedicação das senhoras que fazem parte da cênica é muito grande, pois ninguém pode errar. “
Todos nós trabalhamos para dar a nota máxima para o Caprichoso. Se na cênica o Caprichoso levou 10 ai todas nós ficamos felizes, pois fizemos a nossa parte. Então para todas essas senhoras a cênica tem que ser perfeita”, diz ela.
Para o coordenador de cênica do Caprichoso Ricardo Pegueite o touro negro também faz um trabalho social com esses idosos. “
A história do nosso boi está aqui. Estou feliz por estar no Caprichoso e executando esse trabalho que não deixa de ser uma ação social. É bonito ver no semblante de cada senhora a empolgação e a expectativa de ver o nosso boi campeão”, concluiu.