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Comemoração do centenário dos boi de Parintins está sob suspeita

09/07/2012, Jornal A Crítica

Faz uma semana que o 47° Festival Folclórico de Parintins chegou ao fim, mas os bumbás Garantido e Caprichoso já estão pensando em seus centenários – ambos comemorados em 2013. O problema é que tanto os torcedores do boi da Baixa de São José quanto do boi da Francesa e Palmares afirmam que seus adversários não têm um século de fundação. A polêmica de que o Garantido não teria cem anos surgiu pelo fato de Lindolfo Monteverde (criador do boi do coração) ter feito uma promessa a São João Batista em 1920, quando tinha 18 anos. Ele prometeu que, se se curasse de uma grave doença, realizaria anualmente uma ladainha e uma festa de boi em sua homenagem. Ou seja, se a promessa que deu origem ao bumbá foi feita em 1920, o Garantido vai completar 93 anos de idade em 2013.



A evidência é sustentada pela toada "Sonho de liberdade", que diz numa de suas estrofes: "Boi Garantido, é histórico, é sabido/ Que mestre Lindolfo Monteverde/ Aos 18 anos de idade contigo sonhou/ Boi Garantido, sonho de Lindolfo Monteverde/ Do poeta a oitava maravilha/ Se realizou". A última prova seria um trecho do livro "O magnífico folclore de Parintins", de autoria de Tonzinho Saunier, da década de 70. A obra traz uma entrevista de Lindolfo Monteverde, concedida no dia 21 de junho de 1970 e publicada no jornal "A Tribuna", que circulava no município de Parintins, na qual o próprio diz o seguinte: "Eu tinha 18 anos em 1920, quando coloquei pela primeira vez o novilho, que completa este ano (1970) 50 anos de existência e por isso estou alegre. O Garantido sucedeu o boi Fita Verde, do meu compadre Izídio Passarinho, do Aninga (região de Parintins)".

Família

A despeito disso, Raimundo Monteverde, neto de Lindolfo, afirma que o bumbá vermelho e branco vai completar cem anos em 2013, e que seu avô já brincava com um boi feito de curuatá (invólucro das flores das palmeiras) aos 11 anos. Contudo, só oficializou o Garantido com 22 anos. "Eles dizem isso porque, conforme a idade de Lindolfo em 1913, ele não colocava o boi. Nessa época, não podia brincar com os adultos, mas Lindolfo brincava no terreiro com os irmãos, com amigos. Quando adulto ele fez o boi (Garantido)", diz o neto Monteverde. "Isso é uma forma de igualar o Caprichoso com o Garantido, só que isso não existe, porque o Garantido brincava de boi com o Galante, Fita Verde, Tira Prosa, entre outros, e não com o Caprichoso", complementou.

Provas orais

Provas de que o boi da Francesa e Palmares teria cem anos são poucas, em sua maioria são apenas relatos de pessoas mais antigas. Segundo a pesquisadora Odnéa Andrade, torcedora do Caprichoso, quando começou a participar da vida ativa do boi, entrou em contato com esse público e coletou informações. "Tenho um depoimento da dona Maria Laura, casada com um dos filhos (todos já falecidos) de Roque Cid (fundador do bumbá), que afirma que o Caprichoso tem cem anos", informa. Ela conta, também, que desenvolveu um projeto, intitulado "Oh! Que delícia de rua", que envolvia as ruas Sá Peixoto e Cordovil (ambas de Parintins), onde possivelmente haveria ocorrido o nascimento do Caprichoso, em que os moradores mais antigos dizem que o bumbá completará dez décadas. A obra "O magnífico folclore de Parintins" discorda quanto Roque Cid ser o fundador do Caprichoso. Segundo um trecho da publicação, o boi surgiu em 1913, trazido de Manaus pelo Sr. Emídio Vieira.

Pesquisa não comprova

Larice Butel, do Conselho de Arte do Caprichoso, está fazendo uma pesquisa sobre o centenário do boi da Francesa junto com os outros integrantes do grupo. O estudo começou em janeiro desse ano, mas até agora ela diz ser complicado afirmar que o Caprichoso tenha cem anos. Contudo, pelo que já foi apurado, é possível que o Boi da Estrela seja mais antigo que o Boi do Coração.

Ela aponta, ainda, que Parintins não era dividida em cores e que os bumbás brincavam em ruas específicas do município. "São vários relatos de que aconteciam muitas brigas. Só que ainda estamos tabulando essas informações. (...) Precisamos concluir essa pesquisa até agosto, porque ela vai gerar um documentário e um livro", contou. O cineasta carioca Silvio Da-Rin também já começou a coletar informações para fazer um documentário sobre o centenário do boi Garantido, a ser lançado em 2013.