O cumprimento de um mandado judicial em Ação de Reintegração de Posse com Pedido de Liminar impetrada pelo presidente do boi Garantido, José Walmir Martins de Lima, pôs fim no final da tarde de segunda-feira, ao impasse criado na Cidade Garantido, em Parintins, desde o último domingo, dia 26, quando o ex-presidente da Associação Folclórica, Antonio Andrade Barbosa e seu grupo, acusados de invadir o local, comandaram a instalação

de uma Assembléia Geral e decidiram permanecer na propriedade para fazer valer as decisões tomadas na reunião, entre elas, a destituição de Walmir do cargo. Andrade assumiria como presidente de uma comissão provisória por trinta dias devendo convocar nova eleição.
Protagonista de medidas judiciais resultantes de penhoras de bens, cobranças trabalhistas e uma dívida que pode ultrapassar a casa dos R$ 3 milhões, a Associação Folclórica Boi Garantido esteve diante de uma situação embaraçosa que por pouco não levou os sócios ao confronto e poderia resultar em uma situação irremediável para o futuro do Festival Folclórico de Parintins, que tenta sair do descrédito e busca a moralização.
No domingo e na segunda-feira, policiais militares montaram um cordão de isolamento no curral para evitar o confronto. Sócios e torcedores revoltados com a situação, ameaçavam invadir o local para usar a força e retirar o grupo de Andrade que se negava a sair, provocando indignação.
A diretoria do Garantido agiu com prudência, pediu calma e conseguiu evitar o pior encaminhando o caso a justiça. Enquanto era aguardada a decisão judicial, os ânimos chegaram a ficar exaltados na segunda-feira por volta de 16h. Os torcedores foram para a frente do curral Lindolfo Monteverde pedir a saída de Andrade e seu grupo.

Somente às 18 horas, o comandante da Polícia Militar, capitão Fábio Pacheco, fez cumprir o mandado judicial assinado pelo juiz Manuel Amaro Pereira de Lima, procedendo a reintegração de posse do imóvel ao presidente José Walmir.
O ex-presidente Antonio Andrade, tentou argumentar com o comandante que permaneceu no curral por força de uma decisão de Assembléia, que segundo ele, contou com a presença de mais de 150 sócios. Alegando que recorreria da decisão judicial, ele e seu grupo deixaram a propriedade, em meio a gritos e vaias de torcedores que lotavam a frente da Cidade Garantido.
O comandante esclareceu que a força pública estadual estava aguardando o documento judicial para executar a retirada dos invasores do local.
Ele considerou prudente a presença de policiais militares para que não houvesse confronto. '
A retirada dos infratores foi feita dentro da passividade' comentou.
A AssembléiaA atual diretoria havia publicado Edital convocando uma Assembléia Geral para domingo, dia 26, onde seria explanada a situação financeira do boi, os débitos e as irregularidades verificadas na gestão de Antonio Andrade. No sábado, dia 25, por meio de documento oficial veiculado nos meios de comunicação, a diretoria anunciou o cancelamento da Assembléia, informando que a justiça não havia conseguido reaver os documentos contábeis que teriam sido retirados das dependências da Cidade Garantido pelo ex-presidente Antonio Andrade.
Desconsiderando a decisão da diretoria, Andrade e sócios que fazem parte do seu grupo de apoio, teriam arrombado os cadeados, invadido a Cidade Garantido e instalado a Assembléia Geral que no entendimento da atual diretoria não tinha respaldo legal.

Na reunião, Antonio Andrade propôs a anulação da eleição que conduziu Walmir ao cargo de presidente, solicitou uma auditoria no boi e a formação de uma comissão provisória, presidida por ele, para no prazo de trinta dias proceder alteração no Estatuto da Associação. A comissão foi formada por Antonio Andrade, presidente; Nelson Brelaz Ferreira, vice-presidente; Lailson da Silva Pinto, diretor financeiro; Basílio José Tenório, secretário; Ronildo Batista Monteverde, diretor administrativo.
Andrade fez um relato da situação do boi Garantido na sua gestão, esclarecendo que herdou dívidas de administrações passadas, afirmando de acordo com a ata, que houve uma perseguição pessoal por meio de falsos dossiês encaminhados à imprensa de Parintins, estadual e nacional e aos patrocinadores, constando desmandos em sua administração. Isso teria causado prejuízo para o boi e para o Festival Folclórico que perdeu patrocinadores.
No entendimento da diretoria de José Walmir de Lima, a Assembléia comandada por Andrade não tem amparo jurídico. De acordo com Estatuto, a convocação deve ser feita mediante a assinatura, registrada em cartório, de 1/3 dos associados.
ATO DE VANDALISMO
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Foi um ato de vandalismo', classificou o presidente José Walmir de Lima, que a partir de hoje vai ignorar as tentativas de tumulto para dar andamento às ações do bumbá visando o Festival Folclórico. Ontem, ele viajou a Manaus e deveria ter um encontro com o governador Eduardo Braga, para tratar de questões relacionadas ao boi.
Walmir afirmou que a invasão à Cidade Garantido foi uma atitude insana de uma pessoa sem nenhuma responsabilidade com o Festival Folclórico de Parintins. '
Ele vinha articulando nos últimos dois anos a divisão, a desunião no boi. Só posso classificar isso como um ato de irresponsabilidade de alguém que se aproveita da situação para tentar tumultuar', assinalou.
Nas entrevistas concedidas às emissoras de televisão de Parintins, ele apresentou vários documentos que comprovam irregularidades praticadas pela diretoria passada.

O presidente afirmou que a justiça prevaleceu. '
Todo mundo tem visto nosso comportamento, nossa força para salvar a festa. Acho que ninguém vai procurar contribuir para acabar com o Festival. Foi dado a César o que é de César e a Deus o que é de Deus', disse.
Lamentando o ocorrido Walmir afirmou que não estava satisfeito com o ocorrido, porque impasses como este depõe contra o Festival Folclórico, prejudicando a cidade de Parintins.
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Eu quero que esse cidadão se toque e veja que os males que ele já fez foram grandes, que deixe que esse boi caminhe para dar alegria ao nosso povo', apelou.
A defesa de Andrade
O ex-presidente Antonio Andrade argumentou que veio a Parintins participar de uma Assembléia convocada pela diretoria e se defendeu dizendo que não invadiu a Cidade Garantido.
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O que eu estou querendo, meu grupo está querendo ( e eu posso dizer o meu grupo é maioria dos sócios), é uma eleição limpa, com respeito ao Estatuto, eleição transparente, correta, honesta e quem ganhar seja pelo voto', afirmou.
Na sua opinião, o Brasil é um País de direito, que conquistou maioridade democrática onde não se admite golpes, coisas no escuro. Segundo Andrade se o atual presidente afirma que a verdade está do seu lado, não deveria temer uma nova eleição. Se depender de Andrade e seu grupo, uma nova eleição vai acontecer com a presença de um juiz, um jornalista e um membro do Ministério Público.
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Eu sou um democrata, eu ganho ou perco. Aceito perder sim, mas decentemente', acentuou.
Disse também que vai fazer valer as decisões da Assembléia por meios legais. De acordo com ele, a decisão da primeira instância foi acatada, mas seus advogados já estão recorrendo. '
A creditamos na justiça, ela pode ter seus equívocos, mas existem outras instâncias. Nós achamos que a decisão da primeira instancia não é correta'.
O ex-presidente do Garantido informou que a Assembléia aprovou uma auditoria no boi e a quebra do sigilo fiscal, bancário, telefônico dele, da sua atual mulher e da sua ex-mulher. Dessa forma todas as dúvidas serão esclarecidas.
Também afirmou que a dívida do Garantido é de R$ 1,8 milhão e não de R$ 3 milhões como afirma a atual diretoria.
O presidente José Walmir tem apresentado à imprensa cópias de documentos do boi que apontam para uma dívida superior a R$ 3 milhões.