Exposição conta a história de Parintins
01/10/2003, Jornal A Crítica
Parintins do início do século 20 até os dias atuais será mostrada em imagens e artefatos no Campus da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), na ilha tupinambarana, a partir do dia 15 de outubro, aniversário da cidade. Uma exposição contando em três tempos a história do município está sendo preparada pelo Museu Amazônico especialmente para a ocasião, com o objetivo de incentivar a valorização da história e da cultura do povo parintinense.
Já na fase de etiquetagem os preparativos das quase 200 peças que irão compor a exposição - sendo 20 artefatos arqueológicos indígenas e 170 fotografias e documentos - revela um passado fascinante de Parintins. Correndo os olhos pelas fotos descobre-se o registro de uma cena rara, uma praia formada em frente à cidade, resultado de uma das maiores secas vividas pelo município. A foto é mais antiga, mas em 1980 eu vivi isso. A praia é linda e muito extensa que quase alcança o meio do rio, recorda o curador da exposição, Custódio Rodrigues Silva.
Ainda remexendo o acervo das fotos selecionadas para a exposição, se vê um enorme grupo de homens com traços nipônicos. A fotografia é de 1929 e registra a chegada dos primeiros estudantes japoneses a Parintins. Eram alunos de uma das sete turmas formadas no Japão e encaminhadas para a Escola de Artes Marciais Kokushikan Budosoman Gokko, com sede na Vila Amazônia, naquele município.
Na época, conta Custódia, havia um acordo entre Brasil e Japão para que o país oriental desenvolvesse um projeto agrícola em Parintins. E, os estudantes também faziam parte dele. O que mais tarde foi abandonado devido à segunda guerra mundial e terminou com a prisão de muitos desses japoneses. Até hoje há descendentes desses japoneses em Parintins. Isso faz parte da história do povo do município, comenta o curador.
A EXPOSIÇÃO
A exposição será divida em três salas. Na primeira delas será mostrada uma visão histórica fotográfica da cidade de Parintins, com fotos e documentos que datam de 1920 a 2003. Numa segunda sala será exibidos, também por meio da fotografia, a história da ocupação da Vila Amazônia, berço dos imigrantes japoneses no município, com imagens que vão de 1930a 1945 e depois a era J. G. Araújo, de 1950 a 1957.
Na terceira e última sala, o passado pré-colonial será mostrado nos artefatos arqueológicos encontrados em sítios como o Valéria, em Parintins, e outros em Coari. A maior parte vem do projeto Piatã e não de Parintins, como explicou Custódio Silva. As poças encontradas no solo parintinense são fragmentos, não existindo disponível para a exposição nenhum objeto inteiro. Mas a beleza está no valor da origem. Essas peças datam de 800 a 1.200 anos, avisa ele.
O trabalho de montagem da exposição ainda com o título provisório Nos rastros da memória, já dura quase três meses e contou com a colaboração da Embaixada do Japão no Brasil, que cedeu fotos da vinda dos japoneses para Parintins. A mostra fica aberta ao público até o dia 15 de novembro e depois será montada no Museu Amazônia, em Manaus.
INEDITISMO
Essa é a primeira vez que o Museu Amazônico faz uma exposição em Parintins sobre a história do município. O diretor do museu, Luís Balkar Pinheiro, disse que a intenção é contribuir para o resgate da história e a valorização das origens do povo Parintins das origens do povo parintinense. Ele avisa, no entanto, que essa ação não é parte de um projeto de interiorização das atividades de museu.
Atuamos no interior de forma esporádica, pois nos faltam condições para atender todo o Estado. Mas por onde passamos procuramos levantar a discussão sobre a possibilidade de cada município criar o seu próprio museu. Essa tem sido nossa contribuição, disse.
No ano passado o Museu Amazônico montou em Itacoatiara uma exposição sobre a história de Manaus. Luís Pinheiro disse que o público que visitou a mostra no município vizinho foi o triplo do recebido em Manaus. Isso nos surpreendeu e podemos observar que as pessoas do interior sentem muita falta de atividades culturais. E a exposição supriu isso naquele período.