Cotidiano de vários personagens será acompanhado
16/03/2004, Omar Gusmão/Especial para A Crítica
De toda essa visita precursora, destinada a preparar terreno para as filmagens deste ano, o que restou - além de um encantamento ainda maior pelo festival - foi um grande desafio: Não existe emoção maior que estar ali dentro do Bumbódromo. Mas, como é que você faz para que o espectador se emocione, se ele não conhece o festival, nunca foi a Parintins e nunca ouviu as músicas?, questiona Luciana Boal Marinho, produtora carioca do documentário, ressaltando o objetivo do diretor Simon Brook de ganhar quem já conhece e interessar quem não conhece o festival.
Desse quebra-cabeças, surgiu uma estrutura de roteiro. Simon Brook optou por acompanhar, na vida cotidiana de diversos personagens escolhidos, a preparação para o 28, 29 e 30 de junho. Dentre os prováveis personagens, o diretor destaca, por exemplo, um caboclo que vive em Boca do Acre e vai ao festival; uma Menina de Manaus que participa dos ensaios todos os fins de semana, aprendendo as novas coreografias; e um empresário de Manaus que todo ano larga sua empresa por cerca de uma semana e vai à ilha em seu iate.
Outros personagens que devem constar do documentário são artistas que preparam as apresentações do bumbás, além de Israel e Jr. Paulaim, os irmãos que defendem cores diferentes no festival. O enfoque e grande eixo é a questão da disputa entre o vermelho e o azul. Quando chega na hora do festival, o espectador já se identificou com os personagens, aposta Lucian Boal Marinho.
Para viabilizar a captação de imagens e informação durante a preparação dos artitas nos QGs dos bumbás, foi firmado um acordo de abertura total com a presidência do Conselho de Arte do boi Caprichoso e da Comissão de Arte do boi Garantido.
Financiamento
Enquanto a direção trabalha na seleção dos personagens que farão parte do documentário, a produção de Parintins - Jungle fever avança na viabilização do financiamento da produção. A parte internacional já foi negociada. A produção francesa Cinétévé vai entrar com 60% do financiamento.
Outros parceiros europeus também já firmaram acordos com a produção do documentário, que já tem exibição garantida em países como França, Alemanha, Bélgica e Portugal. No Brasil, foi firmado um acordo de difusão com a TV A Crítica, que detém os direitos das imagens da arena.
Outro ponto a favor documentário Simon Brooks é que ele vai ficar pronto em 2005, justamente o ano consagrado ao Brasil na França, que há dez anos elege anualmente um país do mundo para homenagear. Por conta dessa grata coincidência, Parintins - Jungle fever foi incluído no calendário oficial das celebrações francesas em homenagem ao Brasil.
Nova perspectiva
O diretor Simon Brooks, que já se encontra em Manaus, afirma que o projeto tem tido uma excelente aceitação quando apresentado lá fora do Brasil, É algo que traz uma nova perspectiva sobre a Amazonas. Normalmente documentários sobre o estado são sobre a vida selvagem, as plantas, os peixes ou a situação etnológica dos índios. esse documentário permite que, por meio do Festival de Parintins, as pessoas conheçam um pouco da realidade emocional do Amazonas, acredita.
Simon Brooks também percebe um movimento mundial de valorização dos documentários. As pessoas estão querendo assistir a documentários. Os que os noticiários não conseguem mostrar, a verdade emocional das coisas. As pessoas querem sentir essa verdade emocional e encontram isso nos documentários, afirma.
O diretor não é nenhum neófito em termos de Amazonas. Em 1996, filmou um documentário sobre o rio Amazonas, também em parceria com a produtora Luciana Boal Marinho. Foi então que decidiram que realizariam outro filme no Amazonas.
Enquanto estiver em Manaus, Simon Brooks pretende realizar encontros com profissionais de cinema da cidade. É legal estar em Manaus. Tem uma vida cultural rica. Vou me encontrar com outros diretores para fazer um intercâmbio, diz.
Dois dos documentários já filmados por Simon Brooks também poderão ser assistidos pelo público amazonense, em datas a serem confirmadas, provavelmente em parceria com a Aliança Francesa. Um deles participou no ano passado do Festival Internacional de Documentarios É Tudo Verdade, no Rio de Janeiro e São Paulo. O documentário, intitulado Brook por Brook, um retrato íntimo, é sobre o pai de Simon, o cultuado diretor de teatro inglês Peter Brook. O outro filme que será exibido é The lovers of the river (Os amantes do rio), uma história de amor, à Romeu e Julieta, passada na Etiópia.