Paixão emociona em Parintins
10/04/2004, Eduardo Gomes
Realismo, fé católica e muita emoção por parte dos atores e do público de quase 35 mil pessoas, segundo cálculos dos organizadores. Foi o que se assistiu na noite de sexta-feira Santa na arena do Centro Cultural e Desportivo Amazonino Mendes, o Bumbódromo de Parintins com a encenação da primeira parte da Paixão de Cristo. Durante uma hora e meia, a multidão que ocupou as arquibancadas e cadeiras especiais do Bumbódromo, acompanhou o desempenho das 150 pessoas, entre atores e figurantes, parte da história da morte de Jesus Cristo. Em sua quarta edição, a segunda no Bumbódromo, Parintins proporcionou o maior espetáculo religioso a céu aberto na região Norte.
Ao contrário do ano passado, a encenação do suplício e morte de Jesus Cristo sofreu modificações. Por sugestão do bispo de Parintins, dom Giuliano Frigeni, e do pároco da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, padre Benedito Teixeira, os atores encenaram a partir do momento que Jesus Cristo é levado para o julgamento diante de Pôncius Pilatos, até ser sepultado. As cenas do Sermão da Montanha e da Santa Ceia foram eliminadas. Com isso o espetáculo foi encurtado em pouco mais de uma hora.
A redução teve uma explicação. Durante o dia, sob o sol causticante, milhares de católicos de Parintins participaram de várias procissões da via-sacra, cerca de oito, promovidas não só pela Matriz de Nossa Senhora do Carmo, como das paróquias da cidade.
O espetáculo
O espetáculo foi aberto pouco antes das 21 horas por dom Giuliano Frigeni. Ele conclamou o público presente a uma reflexão sobre a fé cristã. Nós queremos ter corações mudados nesta noite, afirmou.
O canto religioso católico entoado por um coral de 40 vozes, lideradas por Jair de Almeida, abriu a encenação com o cântico ‘O Homem’, precedendo a entrada dos soldados romanos no palácio cenográfico de Poncios Pilatos, interpretado pelo Dé Monteverde.
As cenas mais fortes tiveram logo no início com a entrada de Jesus Cristo, interpretado por Wilders Reuel pelo segundo ano consecutivo. Os açoites do soldado romano interpretado por Marcos Azevedo, o Marquinhos, tripa do Boi Bumbá Caprichoso, à figura de Jesus, foram interpretados com tanto realismo, que chegaram a levar parte do público à indignação. Uma senhora sentada nas cadeiras especial e torcedora do Caprichoso quando soube que era o tripa do Caprichoso chegou a ameaçar tomar satisfações com Marquinhos.
A redução dos elementos cenográficos não diminui a concentração e empenho dos atores, sob a direção geral de Gil Gonçalves e de Ray Santos na direção cênica. Bem ao estilo parintinense, o espetáculo teatral-religioso impressionou pelo realismo. Um deles foi o sangue cenográfico no corpo de Jesus Cristo, fluindo nos açoites, bem como na crucificação.
Emoção e lágrimas
A emoção tomou conta de todos no ponto alto da encenação, quando da crucificação de Jesus Cristo, levando centenas de pessoas às lágrimas. Não somente o público, mas também os próprios atores e figurantes, como Maristela Batista Pimentel (18), interpretando Maria, mãe de Jesus, Conce Rodrigues (36), que deu vida à Verônica e Roseana Costa (24), no papel de Maria Madalena. Elas não contiveram as lágrimas após a crucificação de Jesus Cristo).
Outro ponto alto da encenação foi a participação do público, m sua maioria torcedores do boi bumbá Caprichoso. A partir da primeira meia-hora do espetáculo, eles acenderam velas, atendendo a pedido feito pelos organizadores, interagindo assim com o espetáculo que se desenrolava na arena.
A segunda parte, a ressurreição de Jesus de Cristo, foi encenada à meia-noite de sábado na Igreja da Matriz. No ano passado a paixão, morte e ressurreição do símbolo da cristandade foi encenada no Bumbódromo. Por sugestão do bispo e do pároco, a ressurreição foi transferida para a Igreja da Matriz, marcando assim a Páscoa.