28/06/2004, Jornal A Crítica
Eram 22h30 quando os sete jurados escolhidos por sorteio pelos dirigentes dos bois Garantidos e Caprichoso, na presença do secretário de Estado da Cultura, Robério Braga, entraram na arena do Bumbódromo para só então dar início ao 39º Festival Folclórico de Parintins. A festa começou somente após a intervenção do governador Eduardo Braga, que mandou um recado nada amigável aos dirigentes dos bumbás. O governador mandou avisar que quer que o Festival comece agora, com ou sem jurado porque o Amazonas e ele estão sendo prejudicados, avisou o chefe da Casa Militar do Estado, coronel Wilson Araújo.
Preocupado com o atraso de mais de uma hora, já que também o Estado parece ter perdido o time da negociação com os bois para definir Comissão Julgadora, ele divulgou na imprensa uma nota oficial onde lamentava o episódio e informava que iria tomar providências para que o problema não se repetisse nos próximos anos. Os dirigentes do Caprichoso, César Oliveira, e do Garantido, José Walmir Lima, também pediram desculpas ao público, mas pouco adiantou.Tanto eles quantos os jurados foram recebidos com vaias pelas torcidas.
A recém formada Comissão Julgadora, que valeu só por ontem, foi resultante de uma escolha aleatória de nomes encontrados nas listas de imprensa, autoridades da Justiça local e nacional, hóspedes do hotel Amazon River e do Kuat Clube, feito por Robério Braga. Dos 28 relacionados pelo secretário, foram aprovados 13 nomes para o sorteio.
Destes, saíram o assistente técnico da TV Verde Mares (CE) Isaias Vieira,o fotógrafo paulista Pedro Martinelli,o ator Marcos Frota, a pesquisadora Unicamp Maria Helena Silva, o publicitário Roberto Dualib, o jornalista do Jornal Brasil Bruno Chaves, o também jornalista Fernando César Mesquita (SP) e a presidente do Tribunal Regional do Trabalho do Amazonas (TRT), Solange Moraes.
Esta última acabou deixando a Comissão Julgadora depois de outro impasse entre os bumbás. O Caprichoso decidiu por excluir qualquer representante do Amazonas. E o Garantido contestou. Os jurados, que acabavam de ler o regulamento e mal entendiam o que faziam ali, ficaram assustados. Roberto Dualib, por exemplo, não disfarçou. Irritado, bateu na mesa pedindo que os bois tomassem a decisão de começar o festival ou ele próprio desistiria de participar da Comissão Julgadora. Estamos aqui na maior boa vontade e vocês não se decidem. Isso já está me parecendo uma grande desorganização.
A escolha dos jurados, além de ter obedecido a um critério nunca visto antes no evento, começou a ser feita a apenas meia hora do início do festival, às 20h30. A tarefa era escolher de uma lista de 45 nomes,nove. Depois passou para 26 e terminou sendo de 28. Os sorteados e autoridades pelos bois foram localizados no Bumbódromo e convidados, de surpresa, a se tornarem julgadores.
Nenhum deles havia julgado um festival folclórico antes e a maioria estava pela primeira vez em Parintins. Sobre a disputa dos bumbás então, sabiam quase nada. E sequer entendiam que há itens individuais e de grupo. O resto dos termos parecia grego para eles. O assistente técnico da TV Verdes Mares, Isaias Vieira, era o mais assustado. Ele estava preocupado porque não entendia nada de folclore e jamais tinha estado sequer no Amazonas. Eu já tinha visto o festival uma ou duas vezes pela televisão, mas vou na boa vontade porque não entendo nada, admitiu.
Confusão
A reunião foi tensa e acabou sendo palco de, ao menos, três desavenças. Além do recado direto e seco do governador, ainda houve problemas extras.Confusões entre membros do Garantido e Caprichoso que continuam a complicar a festa. Um membro do Garantido tentou entrar na sala e foi impedido.Uma integrante da diretoria do Caprichoso se aproximou da porta e tratou de mandá-lo embora. Foi o suficiente.Ele a empurrou, jogou os papéis que tinha no chão e saiu protestando.
O Meio Ambiente é destaque na arena
O Garantido abriu ontem o 39ºFestival Folclórico de Parintins (município a 325 quilômetros de Manaus) apostando tudo em alegorias gigantes e articuladas. Com o discurso da região presente em todos os elementos do espetáculo, sempre com destaque para o tema Amazônia, Pátria Verde, o boi da Baixa do São José surpreendeu negativamente a galera encarnada logo com a Lenda Amazônica, item 17. Uma parte da alegoria, que seria uma cobra grande pegou fogo e por pouco não atingiu pessoas próximas.Um oficial do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (Cobom) viu a chama e imediatamente acionou a guarnição de 30 homens que trabalharam rápido na debelação do fogo.Enquanto isso, o apresentador do boi vermelho, Israel Paulain, tentava enganar o público afirmando que o Juma estava incendiando a floresta, numa tática para despistar o problema.
O Juma, embalado pela toada de mesmo nome, de Demetrios Haidos e Geandro Pantoja, é a lenda mais popular entre os caboclos de Parintins, pois é contada em rodadas de pescarias na região da Serra do município, onde viviam os índios Kawaiuá-Parintintin. Debelado o fogo, o boneco mostrou diversos típicos de movimentos, todos comandados a partir a partir de cabos de aço.
Em outro momento importante da apresentação, o Garantido mostrou, na celebração folclórica, uma réplica da Catedral de Nossa Senhora do Carmo. Dela saiu o bumbá Garantido. Para defender o item Figura Típica Regional, o Garantido fez uma homenagem ao Caboclo Ribeirinho por sua forma de interagir com a natureza de uma maneira sustentável. A apoteose da Amazônia, Pátria Verde ocorreu no ritual Místico do Pajé. Misturando elementos de diversas etnias e promovendo uma homenagem aqueles que dedicaram a vida à causa indígena, o Garantido encerrou sua apresentação chamando para a noite de hoje, quando defenderá o tema Parintins da Amazônia.
Caprichoso
O Caprichoso, em busca do bicampeonato, levou para a arena do Bumbódromo serem lendários e folclórico relacionados com o elemento água.O bumbá encheu de cor, principalmente de amarelo e preto,e emocionou todos no primeiro dia, apresentando e reavivando a memória do caboclo e do ribeirinho sobre suas histórias e cultura.Peixes e plantas aquáticas foram usados como elementos materializados no subtema Pátria das Águas, espelho da vida. Quem abriu a festa foi a Marujada de Guerra, com a fantasia Rio Amazonas, que passou pelas alegorias do sol e da lua.
O apresentador, Arlindo Jr, entrou na arena fantasiado de Francisco Orellana. O ponto alto do espetáculo foi o ritual dos matis, chamado mariwin, uma recriação do rito xamanístico da tribo, onde os curumins são iniciados como guerreiros por meio de tatuagens e escariações corporais.Os jovens são consagrados pela visita mítica do ancestral mariwin, o espírito das feras felinas. O pajé Waldir Santana conduziu a cerimônia religiosa para aplacar a fúria do ancestral. Ozéas Bentes criou as alegorias. A lenda amazônica apresentada foi a do boto, o conquistador das águas, produzida pelo artista Rossy Amoedo. Uma das alegorias, medindo 12 metros, trazia dois casais, dois homens transformados e duas cunhãs grávidas, efeitos do encantamento do mamífero. No quesito folclore, o Caprichoso mostrou o tema A Morada dos Contos, numa concepção cênica sobre o Estado do Amazonas, simbolizado pelo Teatro Amazonas, simbolizado pelo Teatro Amazonas, o encontro das águas (também visto na galera), as mulheres guerreiras, o curupira, o caipora e a biodiversidade da região.