18/06/2005, Ag/Nativa Comunicações
Uma celebração folclórica amazônica. O boi Garantido vai celebrar em 2005 a “Festa da Natureza”, tema idealizado para cenário folclórico voltado em essencial para a riqueza da biodiversidade. Como nos anos anteriores, o bumbá traz um discurso de preservação da Amazônia, radicalizando e imprimindo elementos que caracterizam realmente este discurso, que é a própria natureza. A cada dia uma mensagem será levada para a arena encerrando com a noite “Aquarela da Amazônia”. É com este tom que o Boi Garantido pretende encantar a torcida nas três noites de apresentação. O palco mitológico para esta viagem de exaltação é o cenário amazônico, a cultura do povo ribeirinho, o lendário dos índios, os entes da floresta, o caboclo, o curumim da Amazônia. “O boi tem destacado muito isso e nós vamos radicalizar mais ainda. O Garantido vem brincando de boi na Amazônia, brincando de boi com a natureza, mostrando a brincadeira que vem de um processo com formações nordestinas, do colonizador e dentro de um processo de transfiguração etno-cultural, acaba formatando um boi específico que é o boi de Parintins”, resume o músico Fred Góes, presidente da Comissão de Arte do Boi Garantido.
Essa leitura está expressa no discurso de Darci Ribeiro, que trata a questão da transfiguração etno-cultural identificando o caboclo da Amazônia como o brasileiro puro, chegando a dizer que todos os brasileiros são caboclos. “É esse conceito que o Garantido vai mostrar, fazer reacender o discurso da identidade nacional. Nós estaremos mostrando na arena, aquilo que todos nós somos, caboclos”, afirma. Inserido no espetáculo folclórico, o lamento em prol da natureza, da integridade dos povos indígenas, do folclore, do resgate das tradições que mexem diretamente coma crença popular e a vida do povo amazônico.
Em torno dessa temática está toda a configuração para cada noite de apresentação, amparada por rituais e lendas que levarão a encenação a momentos diferenciados, com a própria apresentação da figuras típica que caracterizam o personagem mais forte da Amazônia que é o caboclo. No elemento da figura típica o Garantido vai apresentar a figura do curador, que é um elemento marcante nas comunidades da Amazônia. É aquela figura que recebeu do ancestral índio os ensinamentos do xamanismo, por meio da transcendência espiritual e das ervas medicinais. “Essa figura do curador está muito ligada ao nosso caboclo, nós vamos retratar o xamã ou pajé repassando essas informações ao longo das gerações, os conhecimentos sobre as potencialidades medicinais as ervas da Amazônia. Essa é uma figura típica que marca o conceito para a formatação de arena”, detalha.
Outro personagem que o Garantido vai levar pela primeira fez como figura típica é o curumim da Baixa. Na leitura da Comissão de Arte, o curumim da Baixa é apenas uma representação do que se vê em todos os lugares da Amazônia, em todos os Estados do Brasil. Em qualquer lugar se vê meninos brincando de peão, de bolinha, de papagaio ou pipa. O curumim da Amazônia tem um diferencial. Além de participar dessas brincadeiras, ele tem um brinquedo especial que é a água dos rios. O caboclo da Amazônia de um modo geral tem sua fonte de sobrevivência nas águas, de onde tira o sustento, o alimento da vida e das crenças que materializam os entes que povoam a mente folclórica do povo. Se não preservar as águas morre o caboclo que não terá mais sua fonte de sobrevivência e morre a cultura e o folclore por não ter mais como se materializar.
“O curumim da Amazônia brinca com a água, ele marca a cena amazônica e está muito caracterizado com essa mensagem que nós traçamos para o espetáculo”, acentua, lembrando que em todas as comunidades, nos beiradões, em qualquer lugar que se vá na Amazônia, tem sempre por perto um curumim. Com esses elementos está colada a configuração indígena. A Amazônia tem o maior numero de índios, senão puros, mas com características menos deturpadas como no resto do Brasil.
Os rituais para as três noites do Garantido estão definidos. Deuses Canibais, dos índios Araweté, que celebram o rito do canibalismo. O ritual mostrará a luta com o espírito e senhor das águas iwikatihã, caçador de almas e somente os valentes kaçauerés não serão devorados pelos deuses canibais.
No ritual Festa da Menina Moça, dos índios Ticuna, habitantes da região do Solimões, mais precisamente Tabatinga, o boi Garantido fará a representação da iniciação da cunhã que se transforma em mulher e tem seus cabelos depilados em um rito de fé. O ritual Xamãs Ye’Kuana, tribo do tronco Caribe, habitantes do noroeste de Roraima e Venezuela, será a batalha contra o mal encenada pelos deuses imortais. As lendas para as três retratam a crença indígena. Ukaranã, da tribo Arara, também do tronco Caribe, habitantes do Vale dos Rios Iriri-Xingu, no Pará. Lenda Ynhangõrom, mito da tribo Kura- Bacari que surge para salvar a floresta da destruição, do fogo, das pragas, dos garimpos. A lenda da Criação Tupi Guarani, que trata da criação do mundo na visão dos índios.