25/06/2005, Amazonas Em Tempo
O boi-bumbá Garantido está prometendo colorir a arena do Bumbódromo de Parintins no encerramento da terceira e última noite do 40º Festival Folclórico, quando retratará a “Amazônia em Aquarela”. “Vamos fechar com chave de ouro o trabalho de seis meses de labuta”, disse o teatrólogo Chico Cardoso, da Comissão de Artes do boi da Baixa de São José, demonstrando o otimismo de toda a diretoria na conquista do bicampeonato.
Segundo ele, os espetáculos do boi buscam a “catarse” do ser humano e o Garantido nas suas apresentações está procurando mostrar o que de melhor adquiriu do ser humano e do artista parintinense: a sua criatividade.
No espetáculo “Aquarela na Amazônia”, o boi Garantido está apostando na evolução do folclore como espetáculo cênico para chamar a atenção para a preservação da Amazônia. Por conta dessa concepção, a celebração folclórica “Amazônia em Aquarela”, programada para hoje, vai ser “o desfecho de um mergulho nas riquezas culturais da região e na revelação do imaginário dos homens e mulheres da floresta”.
Como herdeiros de toda essa cultura deixada por seus antepassados, o povo parintinense usa a brincadeira de boi-bumbá para preservar seus mitos, lendas, costumes e exaltar a mãe natureza. Um dos destaques da noite de hoje será a lenda amazônica Ukamarã, que conta a história dos araras vermelhas, índios que habitam os vales dos rios Iriri-xingu, no Estado do Pará.
A cabocla amazônica será homenageada pelo bumbá na figura típica regional. Na concepção artista e cultural do boi, a cabocla “é a matriz principal resultante da transfiguração etnocultural de que tanto fala Darcy Ribeiro (educador)”. É nela que se concentram todos os elementos transfigurados de índios, colonizadores e negros, que resultam na formação do “brasileiro puro”, como classifica o educador.
O Garantido fecha a noite com o ritual indígena Xamãs Ye’Kuana. Esse povo concebe o universo composto por dois planos paralelos: o caju (céu) e nono (a terra). Em um plano inferior do universo, o nono, o sobrenatural. O Sol, pai do universo, então deixa cair três ovos mágicos. Os dois primeiros abriram e deles saíram Wanadi, herói mítico, e seu irmão. O terceiro não quebrou, mas foi machucado e deformado, que foi atirado na floresta por Wanadi. Na queda o ovo quebrou e Cajushawa, cheio de ódio, se transforma em uma manifestação negativa do sobrenatural. É nesse cenário que o boi apresenta sua apoteose, mostrando a luta do bem contra o mal.
Nely Pedroso
Parintins (AM)