12/07/2005, Diário do Amazonas
Revoltados com a falta de pagamento pelos serviços prestados ao Boi-Bumbá Caprichoso nas três noites do 40º Festival Folclórico deste ano, 98 trabalhadores e empurradores de alegorias, decidiram atear fogo em uma alegoria guardada em frente ao galpão central da rua Fausto Bulcão, no início da noite de segunda-feira, quando era esperado o pagamento da última parcela do contrato de prestação de serviços.
Temendo o agravamento do fogo que poderia passar para o interior do galpão, moradores das proximidades acionaram o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar para conter os ânimos dos operários. Parte da alegoria, já sucateada, foi consumida pelo fogo debelado pelos bombeiros.
Os trabalhadores protestaram contra a falta de pagamento e reclamam da ausência dos diretores do Bumbá que prometeram pagar os serviços no dia 7, o que não aconteceu. O empurrador de alegorias Wenderson Oliveira, que participou da manifestação com os mais de noventa colegas, disse que a revolta começou por causa de mais uma transferência de data para o pagamento dos braçais.
Estamos querendo o que é nosso. Nós trabalhamos muito para levar e trazer as alegorias do Bumbódromo até o Galpão Central e agora nos chega a notícia de que o presidente César Oliveira já foi para Manaus. Ontem ele estava no Itaúna, em um bar, gastando dinheiro com a Marujada, fazendo a festa da Marujada. E nós, que trabalhamos duro para dar conta do serviço? Teve até acidente com colegas nosso que estão sem assistência, reforçou Wenderson.
Nós já fomos enrolados três vezes e não dá mais para acreditar no que eles prometem. Segundo os trabalhadores, cada um tem 80 reais para receber da direção do Caprichoso o que corresponde a uma dívida de mais de sete mil reais.
O único dirigente do Bumbá que falou sobre o episódio foi o diretor financeiro, Epafras Melo, que confirmou o pagamento, segunda-feira, dos artistas de Galpão e que os artistas de ponta não haviam sido pagos, mas que o presidente César Oliveira encontra-se em Manaus à procura de recursos para continuar os pagamentos dos artistas e dos demais trabalhadores que atuaram nos dias de festival. A previsão de novos pagamentos é para esta sexta-feira, dia 15.
Ontem o escritório do Bumbá e o escritório do Galpão central permaneceram fechados e nenhum dirigente foi encontrado para falar sobre o assunto. Os comentários são de que a União dos Artistas do Boi teria recebido documentos de um terreno, no centro da cidade e da sede campestre da Associação Folclórica, como garantia de pagamento de seus contratos deste ano.
O Boi-Bumbá Caprichoso perdeu o campeonato este ano e foi alvo de protestos de um grupo de torcedores que reclama da má forma como a agremiação está sendo administrada. Somente da Coca-Cola, o bumbá recebeu R$ 750 mil, sem contar com os recursos do Governo do Amazonas e demais patrocinadores da festa.