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BOI-BUMBÁ NÃO É CARNAVAL!

31/10/2005, Equipe Parintins.com

Apesar das inevitáveis comparações entre o Carnaval das Escolas de Samba e os Bois-Bumbás de Parintins, devemos discordar daqueles que insistem em afirmar categoricamente que a festa parintinense é uma espécie de Carnaval regional. Ao rotularem o Festival Folclórico dos Bois como festa momesca, percebemos a abissal ausência de informação sobre as manifestações culturais brasileiras a tais pessoas para atribuírem um juízo de valor de forma tão errônea.

As duas manifestações culturais têm origens diferentes. O Carnaval é uma festa de origem pagã, isto é, não católioca, caracterizada pelo excesso, como as bebedeiras, com a presença do erotismo e do nu, enquanto o Boi-Bumbá parintinense é uma festa religiosa, apresentando em seu cerne a promessa, a tradição da ladainha, a devoção a santos católicos São João, São Pedro, Santo Antônio e Nossa Senhora do Carmo, a padroeira de Parintins, além dos elementos da narrativa básica do folguedo, utilizada pelos missionários jesuítas: o batismo dos índios, a morte e a ressurreição do boi, a saber: Catirina, gestante, tem desejo de comer a língua do boi mais bonito da fazenda. Pai Francisco, seu marido, com medo de que o filho nascesse aleijado, resolve matar o boi do dono da fazenda, seu patrão. Um vaqueiro denuncia Pai Francisco para o Amo do boi. Este chama os índios para caçar o empregado no mato, mas antes chama o padre para batizá-los. Os índios prendem Pai Francisco e o Amo do boi exige seu boi de volta. Pai Francisco, acuado, chama o Pajé para curar o boi. Pai Francisco faz o que lhe é ensinado pelo Pajé e consegue ressuscitar o animal.

Outra característica principal distintiva está na forma de apresentação: no Carnaval, temos o desfile das Escolas de Samba, um cortejo que passa por nossos olhos pela pista do Sambódromo; no Boi-Bumbá, a agremiação folclórica apresenta-se parada na quadra de arena do Bumbódromo.

Os desfiles das Escolas de Samba são iluminados por potentes refletores, enquanto as apresentações dos Bumbás são iluminadas por tênue iluminação cênica devido à predominância da dramatização nas apresentações dos Bois.
No Boi-Bumbá a platéia tem papel fundamental e ativo, constituindo inclusive item de aferição de nota, enquanto no Carnaval a platéia constitui-se de um elemento à parte dos desfiles, podendo, inclusive, Escolas com menos prestígio se apresentarem com as arquibancadas praticamente vazias. Algo que já está mudando nos desfiles da Unidos da Tijuca, em que a interação da agremiação com a platéia tem sido essencial para a Escola.

O que confunde as pessoas está na estrutura e no porte das apresentações dos Bois-Bumbás Caprichoso e Garantido e principalmente no uso de fantasias e alegorias e critérios de julgamento, elementos próprios do Carnaval. O que tem ocorrido entre as duas manifestações é a constante troca de informações, que são gradativamente assimiladas nas duas partes. As alegorias, por exemplo, foram introduzidas pelo artista plástico Jair Mendes, atual coordenador do galpão de alegorias do Garantido, ao trabalhar nos barracões das Escolas de Samba cariocas no final da década de 70. E os movimentos dos antes estáticos carros alegóricos foram introduzidos pelos artistas de Parintins, empregados em diversos barracões das Escolas cariocas.

E também o Carnaboi, uma mistura de Boi-Bumbá e Carnaval da Bahia, tem contribuído bastante na visão equivocada dos turistas quanto ao folclore amazônico.

O fato de estar carnavalizado, isto é, conter um ou outro aspecto do Carnaval não nos permite considerar que as apresentações dos Bumbás sejam uma espécie de festa de Momo, porque definitivamente não é. O espírito e o sentido da festa é outro. Enquanto no Carnaval temos várias Escolas de Samba concorrendo ao título, inclusive com a possibilidade de rebaixamento, no Boi-Bumbá existe a saudável rivalidade entre apenas duas agremiações folclóricas, ambas em defesa da cultura amazônica, cuja vitória ou derrota acirra ainda mais a competição na festa parintinense.



ELEMENTOS DE APROXIMAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO


CARNAVAL

Data móvel
Profano Orixás
Escola de Samba
Várias Escolas
Carnavalesco
Sambódromo
Única Apresentação
Enredo
Exalta o Negro
Samba-enredo
Desfile
Quesitos
Seqüência Narrativa no Conjunto
Público/Platéia
Público Secundário
Componente
Desfilar
Carros Alegóricos
Fantasias Plumas, Brilho, etc.
Bateria
Mestre de Bateria
Puxador de Samba-Enredo
Destaques
Porta-Bandeira
Barracão
Quadra de Ensaio
Refletores de Estádio

BOI-BUMBÁ

Data fixa
Sagrado Santos Católicos
Agremiação Folclórica
Duas Agremiações
Comissão de Arte
Bumbódromo
Tripla Apresentação
Tema ou Slogan
Exalta o Índio e o caboclo
Toada
Teatro de Arena
Itens Oficiais
Seqüência Narrativa Individualizada
Galera
Público Integrante
Brincante
Brincar ou sair no Boi
Alegorias
Fantasias Penas, Juta, Sementes, etc.
Batucada/Marujada de Guerra
Peara
Levantador de Toadas
Aparição dos Itens Principais
Porta-Estandarte
QG Quartel General
Curral de Ensaio
Iluminação Cênica

Acreditamos que o exposto seja o suficiente para sanar equivocadass comparações, embora poderíamos listar ainda inúmeros fatores que diferenciam as referidas manifestações culturais.

Julio Cesar Farias, autor do livro De Parintins Para o Mundo Ouvir – na Cadência das Toadas dos Bois-Bumbás Caprichoso e Garantido, é professor, pesquisador, escritor, jornalista, colaborador do Centro de Memórias do Carnaval da LIESA-RJ e membro do Conselho Consultivo do Instituto do Carnaval da Universidade Estácio de Sá.