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Lendas e mistérios da ilha

21/05/2006, Peta Cid, direto de Parintins

Parintins AM - A apoteose que os bumbás realizam anualmente em Parintins é mesmo um espetáculo de rara beleza. Bichos gigantescos, criaturas magníficas, seres do imaginário amazônico desfilam na arena causando espanto e arrepios. O que para os visitantes é um cenário do lendário rico e diversificado da Amazônia, para os caboclos da gema é realidade pura, observando é obvio, as proporções das alegorias que no Bumbódromo chegam a 17 metros de altura. De resto, as histórias encenadas na arena povoam a mente dos caçadores, pescadores, ribeirinhos, gente que na maior simplicidade jura já ter visto o curupira, o mapinguari, a cobra grande, o boto que vira homem ou o Neguinho do Campo Grande, que habitava uma área de campina localizada na estrada Odovaldo Novo.

Não é a toa que os bois mostram na arena histórias fantásticas. Há sempre por trás um causo contado com maestria pelos nativos do lugar. Wilmar Viana e Santa Lauriano, ele com 88 e ela 72 anos são proprietários do Campo Grande, e testemunhas das muitas histórias do Neguinho, um duende da floresta que aparecia montado num cavalo e assustava os moradores do Parananema e do Aninga. "Meu pai, Raimundo Lauriano, cansou de ver o Neguinho. Ele viu e me contou", relata dona Santa, que faz questão de dizer que está viva pra contar a história. Se o Wilmar não chegou a ver, mas conta que todos os que tentavam passar pelo lugar depois das dezoito horas, eram acompanhados pelo tal duende. "Naquele tempo, o pessoal respeitava, a gente andava no campo e sentia como se um lote de cavalo acompanhasse nossos passos. Agora ninguém mais acredita, as visagens tem cinco dedos", brinca, se referindo aos ladrões.


Curupira

Raramente os bois deixam de apresentar na arena a lenda da cobra grande. Tema de belas toadas, a cobra é o principal personagem das histórias de pescador. A mais recente foi contada pelo agricultor do Paraná do Limão de Baixo, Mozair Reis, 58 que tinha acabado de encostar a bajara no porto da antiga ponte da Fabril, ao lado da Cidade Garantido. Ele acredita que o fenômeno das terras caídas, que já ocorreu várias vezes naquele local é provocado pela cobra grande. "Ela mora aí nesse aningal, Deus o livre a correnteza, é muito forte mano, quando ela se mexe é aquele alvoroço, aí vem fenômeno, ela arrasta a terra mesmo", afirma.

Maria do Carmo Rodrigues Reis, a dona Camé, 80, completa a história de Mozair, afirmando que um homem chamado Jerônimo foi quem chocou os ovos da cobra que vive no chavascal da ponte da Fabril. Antiga moradora do Paraná do Espírito Santo, dona Camé é um acervo vivo e se admira quando houve as toadas que cantam as lendas. Fizeram agora aquela da Bóia-cica sem cabeça. "Como é que eles souberam? Quase ninguém vê essa cobra, mas eu já vi", diz.

Há cerca quinze anos, os parintinenses acreditavam na cobra grande que aparecia todos os anos, em época de vazante, na Praia do Meio, um banco de areia que se formava no leito do rio Amazonas, em frente à cidade. A praia era freqüentada por banhistas que contavam histórias de miragens e visagens. De repente, o banco de areia deixou de aparecer e a lenda diz que a cobra foi embora.


Dona Camé

Olha o boto faceiro, seu andar de banzeiro é o desejo de amar no sorriso um quebranto/no seu beijo um encanto olha o boto Sinhá. Nos versos de Hugo Levy, uma lenda que atravessa gerações assustando as molecas dos beiradões. Mas será verdade que o boto se transforma em um belo rapaz conquistador? A pergunta encontra resposta na afirmação de dona Camé dos Reis. Ela sabe da história de uma vizinha do Paraná do Espírito Santo que era perseguida pelo boto. Todos da comunidade testemunhavam o fato e quem conheceu a vítima pode afirmar que o bicho se gerava em homem e vinha atrás de uma moça chamada Maria das Dores. Lavaram a roupa de parto dela na beira do rio. Pra quê, mana! Quando tudo parecia quieto, lá vinha ele, tinha roupa de homem mesmo. E ainda fazia psiu! Era um Deus no acusa, levavam a moça pra longe. Foi um curador que afastou o boto, lembra.


Mozair Reis do Paraná do Limão

Já o curupira, aquele que ele faz o caçador de perder na mata como mostram as alegorias na arena do Bumbódromo, também já perseguiu muita gente. Quem já foi judiado por um, pode afirmar que é verdade. A história é do Pedroca, ou Pedro Natividade, 56, morador da Vila Amazônia. Cerca ocasião, ele e os companheiros foram juntar castanha-do-pará e se perderam. Eles começaram a andar em círculos e cismaram que curupira estava judiando deles. As horas passavam e nada, o bicho continuava fazendo os homens de besta, conta a irmã de Pedro Roselene Natividade. Ela diz que o curupira gosta de espelho, de cachaça e se admira com alguma coisa trançada. O Pedroca teceu uma palha e deixou no toco de uma árvore. Só assim eles conseguiram achar o caminho e foram chegar pra casa pra banda da noite, com muito medo, conta.


Wilmar Viana e Santa Lauriano

Uma lenda interessante e sedutora fala das origens da cidade. Essa foi contada por nada menos que o ex-vereador Nelson Brelaz, o Mano Velho. Ele afirma que o finado Agostinho Marques, um homem que trabalhou numa fazenda chamada Bom Sucesso, tinha uma explicação para a sensualidade da cidade e a pavulagem das fogosas caboclas. Não sei se era só marmota ou esculhambação pra distrair a curuminzada, mas ele dizia que as fêmeas de Parintins são quentes porque a ilha surgiu em cima de uma bota encantada. Conforme o boto ia querendo acasalar, ela ia subindo, subindo e surgiu a ilha. Daí porque a cidade tem fama de afrodisíaca, diz.