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Parintins não tem preço

12/06/2005, Pedro Luis Campos Alves

Faltando poucos dias o espetáculo de Caprichoso e Garantido muitas pessoas que nunca foram ao festival ficam se perguntando se vale a pena sair de sua casa, gastar um bom dinheiro em passagens aéreas, hospedagem, custos com ingressos, alimentação e muito mais para ir pro meio da selva amazônica assistir,numa ilha,um festival folclórico. Parintins merece todo esse custo?

Conhecer e estar em Parintins não tem preço, parafraseando uma campanha publicitária. Não tem preço viajar de barco e ver ao longe, ainda a minutos de Parintins, a bandeira dos currais de Garantido e Caprichoso tremulando, indicando ali o território dos guerreiros que, meses antes, já estão preparando as armas da batalha, expostas na forma de fantasias, estruturas, imaginação e sonhos. Não tem preço olhar Parintins de cima da torre da Catedral, observando o rio-mar Amazonas a banhar uma ilha encantada, que florescendo no meio da selva, soube mostrar ao mundo a criatividade, a técnica apurada e a excelência dos seus artistas, que a cada ano se multiplica e encanta os visitantes. Não tem preço sentir o rufar dos tambores cadenciados que conduzem o ritmo dos brincantes, seja no boi de rua ou no boi na arena.

Não tem preço sentir o corpo arrepiar ou as lágrimas a escorrer pela face, quando o seu boi lhe devolve o sentimento de criança, agora liberto pelo som das toadas e pela beleza da evolução. Não tem preço pular e dançar, mesmo que não se saiba de cor as letras, mas acompanhando nos braços a evolução da galera apaixonada. Não tem preço esperar um ano inteiro e sentir seu coração bater mais forte quando o apresentador entra na arena e anuncia que o espetáculo vai começar. Não tem preço sentar numa mesa no meio da Avenida Amazonas e ver o movimento de motos e turistas que passam de um lado para o outro, mostrando sua predileção nas cores das roupas, detalhes do corpo ou enfeites dos veículos. Não tem preço sentar num triciclo e pagar pra dar uma volta na cidade, num ritmo lento onde se pode apreciar no rosto das pessoas a hospitalidade do povo parintinense e as cores das casas, placas, bandeiras, demonstrando toda sua paixão, seja azul ou encarnada. Não tem preço sentar no fim da tarde no Comunas ou próximo ao cais para ver o sol se esconder por trás da mata ou sumir no caminho do rio, reafirmando o que diz o poeta, "pôr-do-sol beijar tuas águas...."

Não tem preço ir ao fim da ilha tomar um banho nas margens do rio ou do lago Macurany, vendo o vôo dos pássaros e a beleza da natureza, que mostra na simplicidade a sua grandiosidade. Não tem preço admirar a imponente Catedral de Nossa Senhora do Carmo, grandiosa por fora, majestosa por dentro. Não tem preço aproveitar os dias finais que antecedem ao festival, curtindo os últimos ensaios no Curral do Garantido ou vendo a apresentação organizada no ensaio Geral do Caprichoso no Bumbódromo. Não tem preço reencontrar pessoas que você não via há um ano, os "amigos do festival", pessoas conhecidas em edições passadas numa mesa de bar, na viagem do barco ou na empolgação da torcida. Não tem preço ver a chegada dos barcos, enfeitados e animados, numa coluna que vem do poente, e que pra lá retornarão na madrugada após a última apresentação, numa fila indiana que quando chega traz a alegria, quando parte leva a saudade.

Não tem preço assistir os nomes mais antigos do boi Garantido, alguns descendentes do Mestre Lindolfo, entoarem no antigo curral a ladainha, para depois ver o boi sair dançando pelas ruas, brincando nas casas e levando alegria e emoção, repetindo décadas passadas, até chegar ao Bumbódromo, sua casa afinal. Não tem preço se sentir pequeno, ficar agoniado quando alguma coisa dá errado na hora da apresentação, num sentimento de apreensão, achando que aquele erro acabou com a noite, para logo depois suspirar aliviado, pois a falha foi vencida pela garra, a dor pela alegria. Não tem preço evidenciar a grandiosidade dos artistas, demonstrado nas apresentações de lendas e rituais. Não tem preço ver a galera balançando os braços e as bandeiras, cantando, pulando, gritando, enquanto a outra assiste calada o espetáculo contrário. Não tem preço tomar um tacacá ou um suco de guaraná no meio da "Broadway", ou amanhecer e ir ao mercado comer um pão com tucumã ou uma tapioquinha, ainda comentando a apresentação da noite anterior.

Não tem preço poder colocar um cocar e sair desfilando pela cidade ou na arena, deixando de lado a vergonha que muitas vezes nos atinge quando somos rotulados de índios, para nos sentirmos valorizados e com orgulho das nossas raízes, caboclas ou indígenas, realçadas nas apresentações. Não tem preço chegar no fim da tarde no bumbódromo e ver as passagens de som, enquanto as duas galeras fazem coro em desafio, com brincadeiras e gritos de guerra.

Não tem preço sentir o azul do Caprichoso e o vermelho do Garantido, se sentir no meio de uma rivalidade ímpar, onde um adversário respeita o outro, pois como yin e yang, um não existe sem o outro. Não tem preço estar num lugar onde as pessoas, mesmo contrárias na paixão, sabem deixar as diferenças de lado pra juntos curtirem o som das toadas que emanam dos carros, das casas, das praças; com provocações, mas sem brigas; sentir que as pessoas que ali estão querem brincar, se divertir, voltar a ser criança, sair da realidade, num sonho chamado Parintins. Troque sua dúvida pela emoção e seja mais um a dizer VALE A PENA !!


Pedro Luis Campos Alves é funcionário público federal, paraense e mais um apaixonado pelo Festival de Parintins


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