11/05/2003, Peta Cid, direto de Parintins
Quem conhece Parintins e a magia dos bumbás Caprichoso e Garantido entende muito bem a fascinação que o Festival Folclórico exerce sobre o povo da pequena Ilha. Mas, a grande maioria ainda desconhece como surgiu a brincadeira que encanta o mundo. Com a vinda de nordestinos, no período áureo da borracha na Amazônia, os habitantes desta região adotaram alguma manifestações culturais, entre elas, o bumba-meu-boi do Maranhão.
Isso aconteceu precisamente em 1913, ano em que surgiram os bumbás em Parintins. Os caboclos que adotaram a brincadeira, levados por laços fortes da cultura nativa, não demoraram a introduzir suas próprias tradições, surgindo assim o boi bumbá de Parintins. Da simples brincadeira de rua, da alegria de cantar e dançar do caboclo, ao redor das fogueiras, com versos e prosas, o parintinense recriou um ritmo contagiante com passos e danças muito peculiares hoje adotadas como identidade cultural do Amazonas.
Naquela época, o boi bumbá, com forte tendência do original maranhanese, brincava nas ruas da cidade, ao redor das fogueiras, homenageando os santos juninos e executando o auto do boi com figuras tradicionais como Pai Francisco, Mãe Catitina, Amo do Boi, Tripa, Padre, Pajé e outros. Durante esse período, outros personagens foram introduzidos.
De 1913 a 1965, o boi-bumbá, mesmo dentro desse processo, toadas, ritmos, alegorias, lendas, tribos, torcida, batucada, rituais indígenas, pajelança, de sincretismo cultural, onde a cultura cabocla e indígena se confundia coma européia, jamais mereceu atenção por parte dos órgãos oficiais e não passava de brincadeira junina.
Em 1965, um movimento da Igreja Católica de Parintins, Juventude Alegre Cristã (JAC) liderado por Raimundo Muniz, Xisto Pereira e Jansen Godinho, resolveu criar o Festival Folclórico de Parintins, que aconteceria no mês de junho de cada ano e teria como atrações, além das quadrilhas e pássaros dançantes, a disputa de Caprichoso e Garantido. A disputa era realizada na quadra da JAC, na rua Jonathas Pedroda, onde hoje funciona o Serviço de Atendmento ao Turista - SAT. A competição acirrou os ânimos entre simpatizantes com rivalidades antagônicas de suas galeras e torcidas organizadas, o que serviu para acelerar o crescimento dos dois grupos que divulgam a cultura típica do povo simples e arredio da selva amazônica.
Em 1988, durante o governo de Amazonimo Mendes e do prefeito Gláucio Gonçalves, foi o construído o Bumbódromo, numa área de 10.000 m2, com capacidade para 35 mil pessoas, cadeiras numeradas, aequibancadas especiais, camarotes e cabines para autoridades. Um monumento em homenagem ao povo parintinense, o Bumbódrmo tem o formato de um boi estilizado, onde a cabeça é representada pela tribuna de honra e os dois acessos laterais lembram os chifres. A arena e a arquibancada dão o contorno do animal. A cada ano, milhares de turistas chegam a cidade para participar da festa. Descrever as apresentações dos bumbás é tarefa difícil. São três mil brincantes em vibração extremada. Um show contagiante que resgata as raízes, a importância da vida cultural no sentido amazônico.
O Festival de Parintins é um dos poucos eventos que realmente pode-se dizer que a alegria é contagiante, devolve ao povo a vontade de brincar, dançar,e festejar.