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Boi de santo: O sagrado no festival de Parintins

17/04/2006, Júlio Cesar Farias

Há um intenso sentido religioso no Festival Folclórico de Parintins, concebido em suas próprias origens, que emociona o público e os brincantes na apresentação dos bois-bumbás Garantido e Caprichoso, levando-os à catarse, pois, segundo contam, ambos teriam surgido a partir de promessas de seus fundadores a São João Batista. Lindolfo Monteverde, primeiro amo do boi branco, com a promessa de colocar o boi para dançar, caso ficasse curado de uma grave enfermidade e o migrante nordestino Roque Cid, primeiro amo do boi negro, com a promessa ao santo de fazer o mesmo, se prosperasse na nova terra.

Essas origens, a propósito, são constantemente encenadas para explicar o feitio religioso que invade a arena em alguns momentos das apresentações e para mostrar que o Festival de Parintins é um folguedo junino, justificando, assim, a respeitosa presença, em forma de alegorias, dos santos católicos celebrados nesse mês. Convém lembrar que os parintinenses têm como característica a acentuada devoção, sendo participantes das manifestações religiosas do local, como a festa em homenagem a Nossa Senhora do Carmo, a padroeira de Parintins. A ilha tem, inclusive, a Catedral da santa padroeira, em cuja quadra Garantido e Caprichoso se apresentavam no passado, antes da construção do Bumbódromo, como divisora dos territórios dos bois rivais.

Contudo, o mais interessante é ver no mesmo espaço cênico o sagrado católico e o sagrado indígena, sem embate ideológico com a Igreja, como ocorre no carnaval com o sagrado do negro. Mesmo que apareçam em momentos diferentes, os deuses da floresta convivem pacificamente com os deuses do homem branco nas apresentações dos bois-bumbás. A aparição dessas entidades faz parte da arraigada tradição do Festival, que incorporou a cultura local. É verdadeira lição de cidadania e consideração às crenças das raças enfocadas na festa parintinense.

Aliás, a presença da fé nas principais festas populares explica-se pelo fato de o brasileiro ser um povo religioso por excelência, com todo o seu inteligente sincretismo. Por isso que, nas manifestações de nossa cultura popular, é extremamente difícil distinguir o que é folclórico do religioso. Sempre haverá, nos primórdios de cada manifestação, uma origem religiosa. E, sem fugir à regra, os bois-bumbás de Parintins estão intimamente associados à religiosidade do povo amazonense, ensinando que é possível, sem cometer heresia, reunir crenças em forma de espetáculo popular.