09/05/2004, Jonas Santos/A Crítica
Você que é torcedor do Garantido ou do Caprichoso e se emocionou ao ver o boi da sua prefência evoluindo, mexendo a cabeça, surgindo de uma alegoria no Bumbódromo ou quebrando o silêncio das alvoradas nas ruas de Parintins, não imagina a trabalheira que dá aqueles movimentos todos, carregando nas costas 17 quilos.
Por trás daquele boi preto ou do boi branquinho, estão as "tripas" ou os "miolos" dos bumbás. Eles pouco aparecem. E não fazem muita questão. Mas segredam que guardam orgulho por serem a alma do símbolo maior do Festival Folclórico de Parintins.
No Garantido, aquele que dá vida ao boi chama-se Denildo José Matos Ribeiro, 32, ou simplesmente Piçanã, como é conhecido na Baixa do São José. Longe dos galpões, quando não está na atividade rotineira de confeccionar o seu Garantido, o "tripa" Piçanã é o dono de uma peqeuna padaria, no bairro Dejard Vieira. Ou melhor, ele é o padeiro do forno principal. "Fiz um investimento de R$ 15 mil com o dinheiro do meu contrato de 2000. Comprei fornos industriais e o que era preciso para montar esse empreendimento", assinala. Piçanã é modesto, não tem muitas vaidades e diz que gosta do que faz. Às 3h da manhã está de pé para levar a primeira massa do pão ao forno. "Pela manhã encontro tempo para ir á academia. Estou precisando perder quatro quilos", que pesa 78 quilos e tem 1,62m de altura.
No ano de 1995, assumiu a função de "tripa" oficial do boi substituindo o mestre Jair Mendes. A partir daí, Piçanã começou a confeccionar o bumbá que se apresenta na arena. "Tudo o que sei aprendi com ele, o Jair", confessa. Desde então, a vida do "tripa" do Garantido mudou para melhor. O ilustre morador da avenida Lindolfo Monteverde, no São José, passou a viajar pelo mundo e a conhecer importantes países. "Acho que falta conhecer só Japão", brinca, ao relatar as viagens internacionais que os bois de Parintins realizaram para mostrar a cultura.
Marcos da Silva Azevedo, 37, o "tripa" do Caprichoso, diz que não esquece uma viagem que fez à França, quando o grupo ficou por quase dois meses participando de uma Feira Internacional de Cultura. "Os franceses acordavam respirando a nossa toada. O boi nos deu essa oportunidade de conhecer outras culturas como os Estados Unidos, Alemanha, Coréia, Portugal, Itália e muitos outros fomos conhecendo de maneira natural com as viagens que realizamos em nome do festival", avaliou.
Marquinhos é "tripa" no Caprichoso desde 1989. "Também aprendi a fazer os movimentos do boi com o mestre Jair", lembra. Por desentendimentos com a diretoria do Garantido o artista Jair Mendes foi trabalhar no Caprichoso em 1986, ficando por três anos no azul. "Depois que o Jair voltou para o Garantido eu assumi a função e não deixei mais",relata.
Com o dinheiro que arrecadou com os contratos com o azul e branco, Marquinhos Azevedo, e um só sócio, se tornou proprietário de uma ótica. Em Parintins, fora do boi, é o funcionário público da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur) e ainda sobra tempo para exercitar seus dons de músico no Pagodão do Rei. Com 1,67m de altura e seus 65 quilos, o "tripa" diz que não se discuida dos exercícios.