12/05/2003, Vitor Lima, de Parintins.com
Para quem prestigia os ensaios dos bois Garantido e Caprichoso, no sambódromo, e se encanta, a cada noite, com toda a magnitude da cultura que é explorada e vivida com emoção por cada um dos brincantes da festa, não têm idéia do número de pessoas, e principalmente das suas histórias, que sobrevivem desse espetáculo. São os famosos vendedores ambulantes, ou barraqueiros, ou ainda, o moço do picolé, que vendem seus produtos para os visitantes. São homens e mulheres que trabalham dignamente, num horário onde muitos estão se divertindo, para garantir o sustento do seu lar.
A sra. Maria do Socorro Sodala, é uma dessas mulheres que trabalham na frente do sambódromo vendendo tira-gostos e algumas guloseimas. Vive disso há sete anos, trabalhando sempre no mesmo ponto, chegando às dezessete horas e saindo só pela manhã do dia seguinte. Como não tem uma boa formação e sua idade é avançada, não conseguiu outra forma senão a do subemprego:
- Trabalhar no sambódromo já foi muito bom. Você podia fazer planos, comprar mercadoria e pagar moderadamente. Hoje já não acontece isso. Eu já consegui arrecadar 300 reais numa noite, ultimamente venho conseguindo aproximadamente 15 reais. O pior é que nós não temos nenhum apoio por parte do boi ou pela prefeitura.
A grande reclamação dos comerciantes é a queda no fluxo de pessoas nos ensaios. E atribuem esse feito à expansão do forró e suas inúmeras casas de show, que disparam promoções incríveis a cada final de semana. Simone Rodrigues, vendedora que também busca seu sustento no sambódromo, diz:
- Nesses últimos dois anos tá muito fraco, muito fraco mesmo, não está dando gente como dava antes...caiu muito o boi. Pra você ter uma idéia, eu trazia 750 espetinhos de carne e não sobrava nenhum, hoje eu trago só 50 e, as vezes, sobra. Eu lembro que nos últimos dias de boi eu arrecadava entre 1600 a 2000 reais. Agora, eu tiro entre 30 e 50 reais. Pra você vê...
E quem afirma que o problema é somente daqueles que vendem tira-gostos e guloseimas, Jamila Sodré, comerciante que vende camisas e bandanas, discorda:
- O movimento de vendas de camisa caiu muito. Eu já cheguei a vender 200 reais em camisas, no auge do boi. A minha pior noite foi este ano, quando vendi apenas 8 reias.
Quem vai para os ensaios e se depara com um público modesto, e não se preocupa com isso, está sendo conivente com uma futura classe de desempregados. Uma classe formada não apenas por aqueles que sobem no palco, ou aqueles que dançam e apresentam o espetáculo, mas também desses que necessitam do evento para poderem vender seus produtos. E isso tudo, ainda é uma fagulha se compararmos com a perda do fomento de nossa cultura.