07/06/2006, Peta Cid, direto de Parintins
A sensação de quem vive numa cidade em permanente ebulição artística é inexplicável, o coração está sempre eufórico, feliz, visualizando as emoções que estão por vir, afinal, é o mês do boi. A população está arrumando a casa para receber os visitantes, os artesãos aceleram a confecção de peças nos fundos dos quintais, as pinturas dos muros ganham o colorido do festival, mestres trabalham em peças de alto relevo em cimento e nos galpões dos bois, bichos gigantes, estruturas futurísticas e pastelagens são expostos sem segredos para secar ao sol.
A festa do boi-bumbá mexe com toda a cidade, desde o garoto que enfeita as ruas com bandeirolas até o pescador que "enche a burra, vendendo jaraqui na Francesa. Tudo na cidade se move em razão da festa.
Os nativos costumam dizer que no mês de junho há uma elevada taxa de criatividade no ar e as explicações para tanta efervescência são muitas, sempre respeitando as diferenças dos contrários que são infinitamente apaixonados pelas suas cores. Aliás, a paixão é o principal combustível da cidade.
Acho que o parintinense é autodidata e por si só descobre e reinventa a sua obra. Nós temos escola de arte, mas quantos estão fora dela ?, questiona a coreógrafa Irian Butel que vê arte pura fluindo em cada ser vivente da ilha.
Coordenando o trabalho de beneficiamento de sementes de açaí que vão produzir peças inéditas do artesanato caboclo da Associação dos Figurinistas e Artesãos de Parintins, Zuleide Ana acredita que os parintinenses trazem arte no sangue. Eu não nasci aqui, mas me deslumbro com a criatividade do povo. Estas sementes, por exemplo, vão ser transformados em peças magníficas, revela, mostrando a tintura que vai colorir as sementes.
Na casa da artesã Silvana Modesto, no Beco Tomaz Meireles, dezenas de tiaras, brincos e adornos estão sendo fabricados para enfeitar os corpos dos visitantes famosos. Até a apresentadora de Tv Ana Mara Braga já usou um cocar produzido por Silvana. Para mim o que faz a diferença é a espontaneidade e a alegria do povo de Parintins. As pessoas têm uma beleza interior e acabam externando isso nas peças ou buscando inspiração na natureza que nos rodeia, diz.
O artista Rossy Amoedo, colecionador de títulos na escola de samba Beija Flor retruca ao responder que não consegue definir de onde vem tanta genialidade. Nós nos damos o luxo de sermos criados no berço da arte, acho que é isso. E completa: Vejo como uma herança. Quando eu era menino já via o mestre Jair Mendes se enrolando com uma cobra e ficava vidrado. Hoje, acho que inúmeros garotos estão nos vendo da mesma forma, observando as nossas obras. E tenho certeza que muitos vão buscar inspiração nisso, vejo como uma herança cultural, define.