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Uma torcida de muita fé

18/05/2006, Peta Cid, direto de Parintins

Parintins (AM) - A paixão pelo azul do Caprichoso e vermelho do Garantido ultrapassa as fronteiras da fé. O sagrado e o profano caminham lado a lado, as missas mudam de horário nos três dias de festa, os versos dos poetas decantam os santos padroeiros e a praça da matriz se enfeita para receber os turistas. Este ano, quando for declarado o campeão do Festival Folclórico de Parintins, em 03 de julho, uma segunda-feira, estará faltando apenas três dias para o início da festa da padroeira da cidade, Nossa Senhora do Carmo, que tradicionalmente começa no dia 06 de julho.

Poucos dias separam os extremos da paixão pelo boi e a devoção à santa. E não é só isso. Nas paróquias, padres e freiras não escondem que são contagiados pelo rufar dos tambores e se dividem entre a estrela e o coração.

Na casa das Irmãs da Caridade, a bandeira azul já foi hasteada e a estrela enfeita a fachada da casa. Isso porque as irmãs negam que sejam fanáticas. "Nós somos só apaixonadas pelo boi Caprichoso. Quando começa aquele rufar dos tambores, ah! parece um fogo dentro da gente. Eu vou nos ensaios, no Bumbódromo e não fico parada, saio do chão mesmo, vibro no rufar dos tambores", confessa a Irmã Maria Benedita Ferreira Costa, 50 anos. "Eu tenho cinqüenta anos bem vividos caprichosamente", completa.


Irmã Maria Benedita Ferreira Costa

Na década de 70, quando os ânimos se acirraram em uma das vitórias do Caprichoso no antigo Parque das Castanholeiras, localizado na mesma rua da casa das freiras, foram as Irmãs da Caridade que esconderam o boi na casa delas para evitar o confronto com o Garantido.

No ano passado, o touro negro voltou a ser hóspede ilustre da casa das freiras por duas semanas, depois de ter sido levado para festa de aniversário da irmã Benedita. "Ele foi muito bem tratado por todas nós e a nossa estrela brilhou aqui em casa", adianta.

A irmã diz que o Caprichoso vai fundo na pesquisa, preserva a tradição. "Não é só ôba ôba, por isso que eu gosto. Aí no Colégio do Carmo tem uma torcida do contrário que a gente fica o ano todo na revanche. Eles dizem que eu vejo boi o tempo todo. Mas pra mim é o ano todo mesmo... eles ficam falando, mas eu vou logo dizendo - circulando, circulando que eu garanto ser caprichosa", avisa, admitindo que não gosta muito de falar o nome do boi contrário.

Já na casa paroquial do bairro Itaúna, onde reside o Padre Rui Canto, 41, o coração vermelho é quem pulsa mais forte. O padre diocesano é natural do Pará, mas desde os seis anos veio morar em Parintins, na rua Vicente Reis, no coração da Baixa do São José onde inevitavelmente foi contagiado pelo vermelho e branco. Aos 16 anos, ele ajudava na organização das tribos, integrou a equipe de Amarildo Teixeira, trabalhou nos capacetes e até brincou um ano de tuxaua. Depois, fez a opção religiosa, mas o coração é vermelho, vermellhaço, vermelhão. "Fico na galera com minha família e só lembro de ter deixado de ir ao Bumbódromo em 93, no ano que fui para o Seminário em Manaus. Fiquei com o coração apertado, mas acompanhei pelo rádio, nós conseguimos sintonizar com um radinho de pilha uma emissora que transmitiu a festa", revela.


Padre Rui Canto

Todos os anos, o padre Rui Canto é convidado para celebrar a missa do Garantido na abertura dos trabalhos e visita os galpões antes das alegorias serem conduzidas ao Bumbódromo.

"A minha missão é levar uma mensagem de orientação espiritual e incentivo aos trabalhadores. Aos diretores, eu sempre peço a valorização do trabalho, a pontualidade em relação aos salários, a honestidade", frisa.

Noel azul

O padre italiano Benito Di Pietro é outro que confirma suas preferências pelo azul, segundo ele, por ser a cor que identifica o manto de Nossa Senhora, muito homenageada pela polícia da Itália, que inclusive, tem o uniforme azul. "Quando o Caprichoso ganha eu saio pela rua buzinando meu carro, agitando a bandeira. As pessoas dizem, Olha o padre lá! Mas o padre também precisa se distrair, eu trabalho de segunda a domingo e sempre que posso, vou nos ensaios me socializar com os outros e não perco o Bumbódromo", conta. Padre Benito confessa que quando o boi perde fica meio recolhido, mas nada de desespero porque o boi é uma brincadeira que traz alegria ao grupo que ganha e não deve haver luta, animosidade, aflição ao ponto de se tornar algo destrutivo. Por ocasião do natal de 2005, o padre chegou ao extremo de se vestir de Papai Noel azul para receber as doações que foram entregues à Paróquia do Sagrado Coração de Jesus.


Padre Benito Di Pietro, às esquerda

Entre uma paixão e outra, o pare Henrique Huggé é coluna do meio e se diz Garanchoso. Ele é comentarista da Rádio Alvorada nas transmissões do Festival direto do Bumbódromo. Com uma vasta experiência desde o ano de 1972 com os índios Sateré-Mawé, ele afirma que o Festival buscou a fisionomia da Amazônia, mas deve aprimorar, aperfeiçoar esse contexto de um mundo que procura respeitar a natureza, valorizar e denunciar os desastres que os homens estão fazendo com o planeta. "Recuperar o lado cultura e espiritual é muito importante. A memória do povo daqui deve ser expressada no folclore. Que possamos aprofundar mais o mito o rito", comentou.