02/04/2018,
acritica.com
Protagonista do maior espetáculo a céu aberto do mundo, na arena do Bumbódromo de Parintins, o Boi-Bumbá Caprichoso documentou a própria história na noite deste sábado (31) no palco de grandes óperas nacionais e internacionais há mais de um século, o Teatro Amazonas, no largo de São Sebastião, Centro de Manaus. Foi o encontro do boi da cultura popular do Brasil com o templo de diversas manifestações artísticas e lugar da memória amazonense para a gravação do DVD “Sabedoria Popular: Uma Revolução Ancestral”.
Seiscentos telespectadores adquiriram assentos para formar a plateia do espetáculo do boi campeão do Festival Folclórico de Parintins, assinado pelo diretor Márcio Braz. O presidente do Boi Caprichoso, Babá Tupinambá, relembrou que o Teatro Amazonas é legado de uma revolução ancestral promovida no final do século XIX, no período conhecido na história socioeconômica do Brasil como Ciclo da Borracha, com negros, indígenas e caboclos envolvidos na mão de obra da construção do monumento.
Foto: Katiuscia Ferreira e Alexandre Vieira
E a produção do DVD 2018 do Boi Caprichoso mergulhou fundo na ancestralidade por trás do símbolo do tempo áureo da borracha, com estilo renascentista. O advogado Rômulo Vieira, quilombola bisneto de Júlio dos Santos, um dos mestres de obra do Teatro Amazonas, integra o elenco do Boi Caprichoso para protagonizar um momento histórico durante a gravação do produto audiovisual, ao declamar um texto na toada “Boi de Negro”, gravada no CD 2018 com a participação da cantora maranhense, Alcione.
“É significativo não para mim, mas para toda minha família e Quilombo do Barranco, até por nós termos uma relação histórica com a construção do Teatro Amazonas, onde nossos antepassados vindos do Maranhão deram sua colaboração”, declarou.
Foto: Katiuscia Ferreira e Alexandre Vieira
Também do Quilombo do Barranco, a pedagoga e socióloga Jamily Souza carrega no sangue as marcas étnicas. Ela é bisneta de Raimundo Nascimento Fonseca, um dos mestres de obras trazidos do Maranhão pelo então governador Eduardo Gonçalves Ribeiro para obras como do Teatro Amazonas. “É motivo de orgulho contar essa história e participar do Boi Caprichoso. Meu bisavô tinha um boi chamado Caprichoso lá no Maranhão e trouxe essa cultura ao Amazonas. Para nós, o convite do Caprichoso para participar da toada Boi de Negro é um reconhecimento a história que envolve a comunidade e ligação com o Teatro Amazonas. Não pensei duas vezes em aceitar, porque nós somos Caprichoso”, afirmou.
O percussionista Jhonatas Nascimento Moreno, remanescente das culturas de matrizes africanas, diz que o Boi Caprichoso engrandece a cultura e movimento negro na Amazônia há mais de dois anos. “O Teatro Amazonas foi construído com o suor negro de nossos antepassados e meus bisavôs vieram do Maranhão para cá. Eduardo Ribeiro foi o primeiro governador negro do Brasil e trouxe a primeira leva de mestres de obras negros. É uma coisa inédita, porque nós temos na gravação do DVD negros do Quilombo do Barranco, na toada Boi de Negro, no Teatro Amazonas. Somos negros, quilombolas e estaremos no Teatro Amazonas. Isso serve para enaltecer nossa ancestralidade. Estamos agradecidos por essa oportunidade do Boi Caprichoso”, ressaltou.
O resultado do espetáculo encenado no palco do Teatro Amazonas, com participação de itens oficiais do Caprichoso, vai resultar no DVD “Sabedoria Popular: Uma Revolução Ancestral”, que também é o tema do Touro Negro para o Festival Folclórico de Parintins 2018, previsto para acontecer no último final de semana do mês de junho, no município de Parintins, no interior do Amazonas.
Foto: Katiuscia Ferreira e Alexandre Vieira
*Com informações da assessoria de imprensa