03/03/2014, G1 Amazonas
Quem passa pela orla de Parintins durante o Festival Folclórico, realizado no mês de junho no município - a 369 km de Manaus -, pode encontrar os trabalhos do artista plástico Emerson Pacheco à venda em uma pequena banca montada por ele todos os anos. No local, esculturas de animais amazônicos em miniatura são comercializadas logo às margens do rio Amazonas. Quem compra os souvenires, talvez nem imagine que pode ver obras do parintinense em escala bem maior. A produção de Emerson e de dezenas de seus conterrâneos encanta principalmente pelo realismo. Os parintinenses são conhecidos por criarem alegorias cheias de movimento e efeitos especiais. Elas podem ser vistas nas apresentações dos bois Caprichoso e Garantido, ou nos desfiles das escolas samba do Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus e outras cidades de todo o país.
Segundo o artista Rossy Amoedo, a pelo menos 80% dos profissionais que trabalham no Festival de Folclórico de Parintins também atuam nos barracões das principais escolas do Brasil. "Parintins tem uma mão de obra que é polivalente de artistas. Conseguimos realizar um trabalho, chegar a um resultado bom. Nós investimos muito na plástica, no festival. Hoje muitos artistas trabalham nos grandes carnavais pelo Brasil. Não apenas Rio de Janeiro e São Paulo, mas interior de São Paulo, Macapá, Manaus e outras cidades. Esse intercâmbio enriquece as duas festas. Acaba sempre colaborando da melhor forma possível", pondera.
Rossy, atualmente é vice-presidente do Boi-bumbá Caprichoso. Mesmo assumindo um cargo de gestão no bumbá, ele consegue tempo para administrar sua equipe, composta por 30 artistas, distribuídos entre as escolas de samba Beija-flor, Mangueira, Portela, Grande Rio e São Clemente. "Não é apenas o artista. Parintins hoje conta com verdadeiros profissionais polivalentes. São projetistas em 3D, desenhistas, escultores, aderecistas. Eu já fiz 12 carnavais consecutivos, sempre fazendo as mesmas escolas", revela.
Carlinhos conta que começou a trabalhar para escolas de samba em 1998. Em São Paulo, ele realizou trabalhos na Nenê de Vila Matilde, Império de Casa Verde e Acadêmicos do Tucuruvi. Já no Rio de Janeiro, começou a trabalhar em 2007 e já fez alegorias da Grande Rio, Império Serrano, Mangueira e Rocinha. Atualmente trabalha no Salgueiro.
Os artistas relatam que o ritmo de trabalho é intenso nos barracões das escolas de samba. Segundo eles, a remuneração financeira é boa, mas trabalhar nas escolas é um aprendizado. "Se pensarmos no aprendizado, ganhamos muito. Mas em termos econômicos, nem tanto. (...)Quando chega mais próximo ao carnaval é quando é liberado as verbas de incentivo para as escolas de grupos e blocos, a demanda por mão de obra especializada fica muito concorrida. O contrato de cada profissional varia, dependendo da sua especialidade, da experiência e de suas referências em outros trabalhos. Na nossa equipe por exemplo, um ajudante ainda em formação técnica ganha em torno de R$ 2 mil ao mês, mínimo. Dependendo do trabalho, e do tempo de execução, os valores aumentam bastante. Nos últimos anos passamos a formar nossos profissionais, trabalhando em parcerias contínuas com alguns cariocas, além de apostar em novos talentos vindos de Parintins. Jovens aos quais repassamos os conhecimentos técnicos e nossas experiências e que já começam a formar suas próprias equipes", conta Carlos.
Mesmo cientes da interferência positiva no carnaval, os profissionais de Parintins acreditam que as duas festas saem ganhando com o intercâmbio entre as cidades. "O aprendizado que o carnaval me trouxe, tanto como ser humano quanto como profissional, me deu uma estrutura de como conduzir melhor as coisas. Estou como vice- presidente do Caprichoso. Esse aprendizado está sendo empregado diretamente em Parintins. Não é um retorno só financeiro ", disse Rossy.